O contato das crianças com a natureza traz benefícios comprovados cientificamente. Um dos grandes desafios é como criar essa conexão, já que nos centros urbanos brasileiros, as meninas e os meninos passam 90% do tempo em lugares fechados.

A situação em nível mundial é preocupante a tal ponto que a falta de contato com o meio natural foi definida como Transtorno do Déficit de Natureza pelo escritor Richard Louv, no livro “A primeira criança da natureza”. Aumentar a interação das crianças com o meio ambiente é uma condição urgente na busca por torná-las menos agressivas, menos irritadas e menos dispersas.

Mas, afinal, como a relação crianças e natureza pode ser tão benéfica e como colocá-la em prática? É o que queremos apresentar neste texto.

Crianças e natureza, uma combinação natural

“O ambiente ao ar livre é onde as crianças mais têm a possibilidade de se desenvolverem em sua plena potência. Essa afiliação ao ambiente natural é fundamental para o desenvolvimento físico, emocional e mental do ser humano”, explica Maria Isabel Barros, especialista em Infâncias e Natureza do Instituto Alana. 

Neste comentário, ela se refere ao conceito de biofilia, que lembra que nós, humanos, temos uma tendência natural a buscar conexões com outras formas de vida. Ou seja: com a natureza, de maneira geral.

Crianças e natureza sempre foram um par absolutamente orgânico, que surgiu de forma espontânea e sem ser forçado. Esta conexão é assim desde os primórdios, de interdependência entre humanos e o ambiente natural.

“Os povos originários estão cansados de explicar isso. As crises mundiais recentes são provocadas por três fatores: o clima, a perda da biodiversidade e a poluição. Todos vinculados a esta desconexão nossa com o meio ambiente. É como se não nos víssemos como parte da natureza”, relembra.

De acordo com diversos estudos – e alguns deles podem ser vistos neste link –, quando crianças e natureza estão próximas desde a mais tenra idade, o comportamento pró conservação cresce com elas.

“Uma infância rica em natureza faz com que meninos e meninas acessem uma dimensão mais sensível entre seres humanos e outros seres vivos. E, naturalmente, elas se sentem mais interessadas em cuidar do meio ambiente”, comenta a especialista do Instituto Alana.

O desafio dos grandes centros

Pode não parecer tão simples fazer com que crianças estejam em contato constante com a natureza quando vivem em grandes centros urbanos. Mas Maria Isabel afirma que pode ser muito mais fácil do que parece, utilizando o conceito Natureza Próxima (do inglês nearby nature). Desse conceito, trazemos duas dicas simples e facilmente aplicáveis – em todas as cidades do Brasil:

– Caminhe próximo à sua casa
“Caminhar é um ato revolucionário”, lembra a especialista do Alana. Simplesmente se permita ir a pé com as crianças a algum lugar. E deixe a criança interagir com um animal, com a água da chuva, com as árvores.

– Comece pelo que é acessível
Pode ser a calçada, um terreno baldio ou o fim da sua rua. O que é acessível na sua cidade?

De acordo com o programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, atividades como esta devem acontecer diariamente. Como lembra este texto: uma hora de práticas diárias na natureza favorece o desenvolvimento integral das crianças.

O primeiro passo pode acontecer no próprio entorno da casa. Em seguida, as atividades envolvendo crianças e natureza podem – e devem – ir sendo ampliadas. A sugestão, adaptada do Nature Kids Institute é a seguinte:

– Diariamente: que a criança brinque ao ar livre. Fique na rua, corra na grama, suba em árvores.

– Semanalmente: que a criança explore a natureza. Caminhando, mexendo na água, observando animais.

– Mensalmente: visite um parque! Aproveitar as praças e parques urbanos para fazer uma atividade em família, como um piquenique, por exemplo.

– Anualmente: que tal procurar áreas mais amplas e remotas? Visitar um Parque Nacional ou Estadual é uma excelente opção. Veja aqui uma lista com sugestões. 

“Com uma aproximação maior entre crianças e natureza, vai rolar inclusive uma autorregulação. A própria criança vai querer brincar ao ar livre, porque o repertório dela de experiências ao ar livre cresceu”, finaliza Maria Isabel.

É nisso o Semeia acredita: que a relação de crianças e jovens de hoje com a natureza auxilie a formar pessoas mais saudáveis e conscientes da importância do vínculo com o meio ambiente.