Conheça o Parque Nacional da Serra do Divisor
Localizada no Acre, na divisa com o Peru, a unidade conserva uma Amazônia única, com rios cristalinos, serras e montanhas
14/10/2025

Dos 75 parques nacionais brasileiros, apenas um deles fica no Acre: o Parque Nacional da Serra do Divisor. Localizado no extremo Oeste do território brasileiro, o local é um verdadeiro santuário natural que leva a experiência amazônica a patamares únicos.
As dimensões exponenciais da Amazônia estão presentes por ali: florestas densas e uma fauna extremamente vasta estão no território da unidade de conservação. O que pode chamar a atenção são características peculiares, mais comumente encontradas em outros biomas: águas cristalinas, mais facilmente vistas no Cerrado, e serras e montanhas, mais comuns na Mata Atlântica (embora também possa ser encontrada em outros parques, como o Montanhas do Tumucumaque e o Pico da Neblina).
Estas características peculiares por si só já fariam do Parque Nacional da Serra do Divisor um tesouro nacional. Mas tem mais. Com mais de 800 mil hectares, a unidade é um ponto mundial para observação de aves (veja mais abaixo) e proporciona visuais de cair o queixo, incluindo um mirante 360° com vista monumental para a floresta amazônica.
“É uma unidade de conservação especial, muito diferente da maioria. Um dos pontos é a dimensão gigantesca, com quase 1 milhão de hectares e acesso fluvial, e uma riqueza biológica extremamente ampla”, explica Laurence Gilman, gestor da NGI (Núcleo de Gestão Integrada) Cruzeiro do Sul, responsável pela gestão do Parque e das Reservas Extrativistas Alto Juruá e Riozinho da Liberdade.

Parque Nacional da Serra do Divisor e a visitação na Amazônia
As belezas naturais tão características da Amazônia são potencializadas no Parque Nacional da Serra do Divisor. A começar pela forma da visitação: assim como é comum em grande parte do bioma, as ruas e estradas são os rios, corredeiras e igarapés.
A chegada ao parque se dá pelo município de Mâncio Lima, onde está cerca de um terço de toda a área da unidade. A partir dali, são de 7 a 8 horas em embarcação pelos rios Japiim e Moa – e aí a imersão amazônica já começa.
Esta é a chamada parte Norte do Parque Nacional da Serra do Divisor, onde ocorre a visitação, conhecida como Pé da Serra. É também onde se encontram as três pousadas para visitantes.
“Esta é a principal entrada para as pessoas que vêm fazer ecoturismo. No caminho, cerca de 2h antes de chegar ao Pé da Serra, estão os povos indígenas de ressurgência, chamado povo Nawa”, explica Laurence, lembrando que no Parque também está localizada também a terra indígena Nukni.
De uma maneira sustentável, o ICMBio tem trabalhado para incentivar a visitação local nos últimos anos – inclusive como ferramenta de educação ambiental e geração de renda, o que chamamos de Ciclo Virtuoso dos parques.
“Em 2024 registramos 2.995 visitantes na unidade, em uma parceria lado a lado com a comunidade local. Nosso trabalho é 100% voltado para a população tradicional”, comenta Laurence.
Observação de aves no Parque Nacional da Serra do Divisor
O Parque da Serra do Divisor é considerado um dos locais de maior biodiversidade em toda a Amazônia. Não por acaso, tem sido um destino cada vez mais procurado por quem curte observar a vida silvestre.
De acordo com o Instituto Socioambiental, já foram registradas mais de 1.200 espécies de animais no Parque – cerca de 45% deste número é formado por aves de várias espécies, algumas delas endêmicas.
Entre elas, uma já está se tornando um clássico do Parque Nacional da Serra do Divisor: a choca-do-acre. Pequenina, com cerca de 15 cm, ela é considerada rara e nova para a ciência, já que foi registrada em 2004 – e só pode ser avistada na região da Serra do Divisor, tanto no Brasil quanto no Peru.
Outras aves raras do local são o barbudo-de-coleira e a saíra-opala.

“É impressionante a quantidade de animais que é possível ver nos passeios pela Serra do Divisor. Além de viver a floresta amazônica de uma maneira absurda, é uma área riquíssima para quem é observador. É muito difícil alguém voltar desapontado de uma observação de aves por aqui”, brinca Laurence.
Em 2025, o ICMBio realizou um curso de Interpretação Ambiental e Observação de Aves para a comunidade local, com o intuito de alavancar o turismo sustentável e o chamado birdwatching.
Parque Nacional da Serra do Divisor: atrativos e atividades
A região mais a Oeste do Brasil possui riquezas fabulosas no coração da Amazônia. Parte delas pode ser explicada pela existência de cachoeiras – afinal, é um dos poucos lugares em todo o estado do Acre em que elas existem.
Associando as cachoeiras às águas cristalinas, a experiência aquática amazônica ganha contornos mais do que especiais.
É sempre bom lembrar que os deslocamentos são sempre fluviais. O que significa que todos os passeios – sejam eles com trilhas ou sem trilhas – começam a partir de um passeio de barco. Funciona assim: o barco sai de um ponto no Pé da Serra, onde se encontram as pousadas, entram no rio Moa e se deslocam até o ponto de onde estão os atrativos.

Além da observação de aves, conheça alguns dos atrativos do Parque Nacional da Serra do Divisor:
- Mirante da Serra: é o ponto mais alto do parque, com cerca de 600m, e de onde se tem uma das vistas mais deslumbrantes da Amazônia. A visão é panorâmica e descortina um verdadeiro paraíso: de um lado a floresta a perder de vista, do outro a cadeia de serras que chega até o Peru. “É o meu lugar favorito”, confessa Laurence.
- Cachoeira do Amor: ao lado da trilha que vai para o Mirante está a entrada para esta pérola amazônica. Parte da trilha de cerca de 1km é percorrida dentro de um braço de água cristalina, o que já torna o passeio inesquecível.
- Trilha da Formosa: com cerca de 14km de extensão, a Trilha da Formosa é mais uma mostra da riqueza do Parque Nacional da Serra do Divisor. Com acesso direto pela comunidade Pé de Serra, ela está cadastrada na Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso e oferece uma verdadeira imersão na floresta – com o bônus mais do que especial da recompensa final na cachoeira Formosa.
O ideal para este passeio é o pernoite próximo à cachoeira. O espaço conta com estrutura sustentável desenvolvida pela gestão do Parque, com redário e cozinha rústica no leito do igarapé. A cachoeira Formosa tem um paredão imenso, poço com água cristalina e uma importância geológica por sua formação única no bioma amazônico.
“Na Amazônia não existe uma cultura tão forte de trilha, provavelmente por ser uma mata mais fechada do que em outros biomas. Mas essa trilha eu diria que é imperdível”, recomenda Laurence.
- Buraco da Central: uma história peculiar, que acabou se tornando um atrativo muito procurado por visitantes. Diferentemente dos demais pontos turísticos, esse não foi formado pela ação da natureza, mas sim pela ação humana: foi cavado há mais de 60 anos em busca de petróleo. A riqueza encontrada, porém, foi água cristalina abundante, que jorra sem parar do fundo da terra.
- Outras cachoeiras: ao todo, o Parque Nacional da Serra do Divisor conta com 8 cachoeiras, todas com trilhas curtas para chegar. Todas valem a visita: Ar Condicionado, Pedernal, Pirapora 1, Pirapora 2, Grande e Mapinguari, além da Formosa e a do Amor que já falamos acima.
ESFERA ADMINISTRATIVA
Federal
DATA DE CRIAÇÃO:
16 de junho de 1989
ESTADO:
Acre
MUNICÍPIOS:
Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Marechal Thaumaturgo, Porto Walter e Rodrigues Alves
BIOMA:
Amazônia
ÁREA TOTAL:
837.555 hectares
INFORMAÇÕES SOBRE A VISITAÇÃO
MAIS INFORMAÇÕES:
A forma mais indicada para visitar o Parque Nacional da Serra do Divisor é contatar uma das pousadas que atuam com turismo de base comunitária no local. A partir deste primeiro contato, você agenda os passeios, define o condutor de turismo responsável e também o barqueiro que irá realizar as atividades.
Todas as pousadas oferecem pensão completa, com café da manhã, almoço e jantar.
A melhor forma de chegar a Mâncio Lima é através de Cruzeiro do Sul, município que está a cerca de 30 minutos de distância e que conta com aeroporto. A partir de Mâncio Lima, o trajeto é feito por barcos até a pousada escolhida dentro do Parque.
Também é possível ir de carro da capital Rio Branco até Mâncio Lima. São cerca de 620km de estrada, em um percurso que pode chegar a 14h de deslocamento devido às condições da estrada.
“Temos trabalhado muito em parceria com a comunidade e a visitação do Parque da Serra do Divisor está pronta para crescer. Existe muita gente boa trabalhando aqui, com pousadas, barqueiros, alimentação e condutores”, conta Laurence.
Conheça algumas pousadas que prestam esse serviço:
Para saber mais sobre as atividades do Parque Nacional da Serra do Divisor, acompanhe o perfil no Instagram.