Mudanças climáticas no Brasil e áreas protegidas: por que temos que agir agora
Os impactos negativos das mudanças climáticas têm sido devastadores. O que pode ser feito para reverter esse cenário?
09/04/2025
Foto: Ricardo Stuckert

Tem sido cada vez mais comum nos depararmos com ondas de calor extremo, secas acima do normal, enchentes quase sem precedentes e outros fenômenos similares. São diversos os exemplos causados pelas mudanças climáticas no Brasil, que em diversos momentos nos trazem a pergunta: e agora?
Muitas vezes pode aparecer uma sensação de impotência, de que não há muito o que ser feito. Mas será que é assim mesmo? Será que a única coisa que podemos fazer é cruzar os braços? Não, não é bem assim. As consequências das mudanças climáticas no Brasil precisam estar no radar de toda e qualquer política pública.
Conservar a biodiversidade das áreas protegidas e mitigar os efeitos negativos das alterações do clima são premissas essenciais da atuação do Semeia, que no último mês de março promoveu o painel “Do Fogo à Conservação: Áreas Protegidas em Tempos de Crise Climática”, dentro do evento Parques do Brasil.
Com a participação de especialistas no tema, a discussão teve um papel importante no sentido de trazer o panorama da relação de Unidades de Conservação e as mudanças climáticas no Brasil – além de trazer ideias de possíveis ações para mitigar os efeitos negativos dela.
“As áreas protegidas representam um território massivo. De 2022 a 2024 temos a excelente notícia da diminuição do desmatamento na Amazônia. Porém nos últimos dois anos tivemos duas secas muito fortes. Que nos deu o alerta: não é só combater o desmatamento, mas também um trabalho de conscientização sobre o uso do fogo”, explicou durante o painel Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).
“A boa notícia é que quem começa o fogo, quase sempre, são os seres humanos. Então o ambiente pode mudar. Amazônia, Cerrado e Pantanal são ambientes muito sensíveis ao fogo. E sabendo que somos nós, humanos, responsáveis, podemos controlar”, complementou.
É importante lembrar que o meio ambiente, a natureza em si, é o principal fator responsável pelo equilíbrio dos ativos ambientais – desde a formação do solo aos ciclos hídricos. Ou seja: a conservação é absolutamente fundamental para reduzir os riscos de mudanças climáticas no Brasil e no mundo.
Aqui fica clara a importância dos parques, além de outras Unidades de Conservação: cumprir o objetivo de conservar o ecossistema e desacelerar o ritmo dos efeitos negativos da alteração do clima. Voltando à escola: as áreas verdes absorvem gás carbônico, e em consequência ajustam a intensidade e frequência das chuvas e o ciclo hídrico como um todo.
“Sem o bioma Amazônia, a gente não tem o bioma Cerrado. Porque sem a Amazônia não teria chuva no Cerrado. Se não tem chuva no Cerrado, não tem água no Pantanal. Está tudo interligado”, lembrou Bárbara Doche, brigadista voluntária no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, que também participou do painel.
“Se não tem bioma, se não tem água, também não tem vida. A gente faz parte da natureza e necessita dela para sobreviver. A gente precisa de ar, a gente precisa de água”, completou.

Mudanças climáticas no Brasil: o que pode ser feito para diminuir os efeitos?
As alterações do clima não são uma novidade. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas), a temperatura média global tem subido consistentemente desde 1850 (logo na sequência da Revolução Industrial).
Nos últimos anos, porém, as consequências têm se tornado muito claras e cada vez mais frequentes: mega secas na Amazônia em 2023 e 2024, um quarto do Pantanal queimado em 2020, enchentes no Rio Grande do Sul em 2024, por exemplo.
Parece claro que é preciso agir. A agenda das Unidades de Conservação precisa estar conectada a essa realidade: órgãos públicos, organizações, iniciativa privada e concessionárias precisam ter a restauração ambiental como meta. É sempre bom lembrar que a ONU estabeleceu a Década da Restauração de Ecossistemas.
Para além disso, a participação da população pode ser fundamental para diminuir os efeitos negativos das mudanças climáticas no Brasil.
“Os parques ajudam a diminuir os efeitos destas alterações, sabemos disso. Nesse mundo tão louco em que estamos, precisamos estar conectados com a natureza. As pessoas precisam conhecer os parques, porque a gente só protege o que conhece”, relembrou Ane.
Mário Haberfeld, fundador e presidente do Onçafari e também participante do painel, tem experiências constantes com o tema na região do Pantanal, onde se iniciaram as atividades da organização. E ele corrobora com a opinião de Ane.
“Antigamente, as pessoas colocavam fogo e não havia tanto problema como hoje. As mudanças climáticas alteraram essa dinâmica. É fundamental que os parques e as associações atuem lado a lado com as comunidades, com foco na educação ambiental. Isso faz a diferença”, explicou.
Infelizmente não podemos utilizar tintas leves para pintar esse quadro: a situação é crítica. As soluções não são únicas, nem isoladas: sociedade civil, poder público e iniciativa privada devem estar próximos e atuando com o mesmo objetivo de restaurar o meio ambiente.
Fica claro a importância dos parques brasileiros neste processo. Mas é preciso engajamento, força e muito trabalho para que a restauração ambiental tenha sucesso – e que as mudanças climáticas no Brasil e no mundo entrem em um espiral de controle.
Para saber mais, assista ao painel “Do Fogo à Conservação: Áreas Protegidas em Tempos de Crise Climática”: