Parques naturais do Brasil: o que motiva as pessoas a visitarem unidades de conservação?
Pesquisa Parques do Brasil 2024 aponta que a maior motivação para visitar os parques naturais do Brasil é o contato com a natureza.
26/04/2024
Parque Nacional da Chapada Diamantina (BA) | Foto: iStock
Os primeiros meses de 2024 trouxeram números animadores para quem trabalha na área de meio ambiente e turismo de natureza: a de que a população está buscando frequentar e conhecer os parques naturais pelo Brasil.
Primeiro foi o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que no início do ano trouxe a informação de que os parques brasileiros chegaram ao pico de visitação em 2023. As 156 unidades de conservação administradas e monitoradas pela entidade tiveram 23,7 milhões de visitantes durante o período, aumento de cerca de 15% em relação a 2022.
Mais recentemente, em abril, o Instituto Semeia apresentou a pesquisa Parques do Brasil 2024 – Percepções da População, com dados que reforçam o interesse da população por parques, tanto urbanos quanto naturais. Ela aponta, por exemplo, que 96% das pessoas entrevistadas conhecem pelo menos um parque natural e que 71% já visitaram um parque deste tipo.
Apesar de teoricamente mais acessíveis, por estarem dentro das cidades, os parques urbanos são menos conhecidos por quem respondeu à pesquisa. De todas as pessoas entrevistadas, 80% afirmaram conhecer um parque urbano e 82% confirmaram que já visitaram um parque deste tipo.
Neste texto vamos focar em alguns achados da pesquisa do Semeia, especialmente nos que dizem respeito a motivos e barreiras para a visitação aos parques naturais do Brasil. Em outro texto, abordamos essas nuances para os parques urbanos.
O que motiva as pessoas a visitarem os parques naturais do Brasil?
Primeiro é importante deixar claro que os parques naturais brasileiros – sejam eles federais, estaduais ou municipais – têm na visitação uma das suas premissas principais. Tendo como objetivo central a conservação do meio ambiente, eles proporcionam proximidade e conhecimento à população – o que auxilia na difusão e na conservação socioambiental.
Na pesquisa Parques do Brasil 2024, a maior motivação apontada pelas pessoas para visitar um parque natural foi o gosto pelo contato com a natureza – resposta dada por 36% das pessoas entrevistadas. Logo em seguida, está o interesse em mostrar a natureza para filhas e filhos, indicado por 22%. Já 17% das respostas apontam que a visitação foi motivada por um atrativo famoso, como uma cachoeira ou uma caverna.
Todos estes casos dão a entender que são pessoas que já têm proximidade com temas de meio ambiente e que dão valor ao contato com a natureza.
As recomendações também têm peso importante para a visitação: 21% dos respondentes afirmam que foram por indicação de amigos/familiares, enquanto 6% viram uma matéria ou documentário que despertou o interesse.
Aqui, outro ponto fundamental: a divulgação e a comunicação fazem a diferença. Afinal, nossas belezas naturais são reconhecidas mundialmente e servem de motivação para viagens pelos quatro cantos do país.
Por que as pessoas ainda visitam pouco os parques do Brasil?
Se por um lado a pesquisa aponta que 71% das pessoas já visitaram um dos parques naturais do Brasil, isso significa que aproximadamente 1/3 de quem respondeu à pesquisa nunca foi a um deles (29%). Ou seja: a maior parte das pessoas já ouviu falar de pelo menos um parque natural, mas isso não significa, necessariamente, que já esteve em um deles.
De acordo com a pesquisa, as principais barreiras apresentadas são custo, distância e falta de informações. Entre quem nunca visitou um parque natural, 42% apontam o custo de deslocamento, enquanto 20% apontam distância a partir de sua casa.
Aqui vale outra reflexão: como fazer com que brasileiras e brasileiros escolham visitar parques? Afinal, do grupo que nunca visitou um parque natural, 38% viajou no último ano para praias.
Observando com atenção os dados da pesquisa Parques do Brasil, uma parte dos entraves apontados têm a ver com falta de conhecimento: 13% afirmam que falta informação sobre os parques naturais e 12% que faltam informações sobre as atividades que podem ser realizadas neles.
“A falta de conhecimento sobre esses espaços, assim como as programações oferecidas, são alguns dos principais entraves que a maioria das pessoas relatam. Nesse sentido, ampliar as divulgações de suas atividades, benefícios, dinâmicas de atendimento seria o primeiro passo para incentivar e facilitar o planejamento e a organização destas visitas bem como valorizá-las”, afirma Mariana Haddad, coordenadora de conhecimento do Instituto Semeia.
Referente aos custos e à distância, esta comunicação, inclusive, pode informar que há uma ampla oferta de opções de parques com os mesmos custos e distâncias que outros destinos turísticos mais populares e visitados como as praias, capitais e outros destinos turísticos bastante conhecidos no Brasil.
Os desafios são incontáveis, por isso é preciso convergir as competências do poder público com as potencialidades das empresas e organizações do terceiro setor.
Se pegarmos outras respostas como exemplo, podemos também compreender que as pessoas não têm todas as informações à disposição antes de se decidirem a visitar um parque natural. Por exemplo: quando 22% apontam que a viagem é muito longa a partir de onde moram; quando 7% dizem que infraestrutura e serviços são muito ruins; e quando outros 7% que estes parques não são seguros para visitação.
A necessidade de divulgar mais informações e tornar os parques mais acessíveis vão ao encontro do que o Instituto Semeia acredita: as pessoas precisam conhecer melhor os parques do Brasil, para terem uma visão mais ampla da realidade. E é daqui que vamos à nossa próxima pergunta.
Como estimular ainda mais a visitação aos parques do Brasil?
Mesmo com o recorde de visitação em 2023, o potencial brasileiro em relação a parques naturais é exponencial. De Norte a Sul, de Nordeste a Sudeste, passando pelo Centro-Oeste, a oferta de natureza deslumbrante e a diversidade de atividades fazem do Brasil um dos maiores do mundo quando o assunto é turismo de natureza.
É fundamental compreender que é um país com dimensões continentais, e que as distâncias e o fator econômico são, sim, entraves. Mas é importante lembrar: existem centenas de parques naturais no país, com uma grande quantidade de opções mais próximas de regiões metropolitanas e até mais baratas do que os destinos turísticos mais famosos que povoam o imaginário.
“A partir desta pesquisa, o Instituto Semeia pretende refletir e atuar para incentivar a sociedade a conhecer e valorizar nossos parques. Para que esses objetivos sejam alcançados, é necessário convergir as capacidades de potencialidades do poder público e do setor privado para que, então, as unidades de conservação do nosso país sejam motivo de orgulho para todas e todos”, conclui Mariana Haddad.