Conheça o Parque Nacional da Furna Feia
Com mais de 200 cavernas, parque abriu para visitação em 2025 e somou mais de 1500 visitas nos primeiros 5 meses
09/12/2025
Diego Bento
Foram anos de espera, mas em junho de 2025 o Parque Nacional da Furna Feia/RN foi aberto oficialmente para a visitação. Um dos principais remanescentes da Caatinga no estado do Rio Grande do Norte, a unidade de conservação levou exatos 13 anos para ser aberta ao público desde que foi criada.
A espera, porém, valeu a pena. Com 207 cavernas localizadas dentro do parque, além de outras 44 na zona de amortecimento, o local é uma verdadeira riqueza espeleológica do Brasil. E conta com algo peculiar: como a maioria dos atrativos são cavernas subterrâneas, os arredores da unidade são diferentes da grande maioria dos parques nacionais. Não se veem montanhas ou paredões, mas uma belíssima vegetação típica do bioma, repleta de cactos e árvores como angicos e aroeiras, que camuflam lajedos de pedras e, claro, as cavernas e furnas.
Os números dos primeiros meses de abertura do Parque Nacional da Furna Feia mostram o interesse da população em conhecer melhor a região. De julho a outubro de 2025 foram mais de 1.500 visitantes, de acordo com Lucia Guaraldo, gestora do Núcleo de Gestão Integrada que engloba a Furna Feia, a Estação Ecológica do Castanhão/CE e a Floresta Nacional de Açu/RN.
“A abertura do parque foi muito esperada. Tanto pelas pessoas locais, já que é o primeiro parque nacional do Rio Grande do Norte, mas também pelas pessoas de Natal e de Fortaleza, já que estamos mais próximos da capital cearense do que da capital potiguar”, explica.
Em termos de localização, o Parque Nacional da Furna Feia fica nos municípios de Baraúna e Mossoró, que estão na divisa do estado com o Ceará. Recentemente, o local passou a fazer parte da Rota das Cavernas Potiguar, que engloba ainda diversos sítios espeleológicos do estado.
Lucia se recorda que, quando chegou à unidade de conversação, em 2016, uma das principais missões era a abertura do parque. Os portões abertos vieram depois de um trabalho de muitos anos, que envolveu ICMBio, as prefeituras locais, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas (Cecav), Idema-RN (Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) e as comunidades locais.
“Até me emociono de lembrar. Foi um dos poucos momentos da minha vida em que vivi um amor coletivo, de muitas pessoas juntas, na mesma vibração, de esperança, de alegria. Foi contagiante”, relembra.

Abertura do parque: o ciclo virtuoso da conservação na prática
Além de muito esperada pela população local e por ecoturistas de todo o país, o começo da visitação do Parque Nacional da Furna Feia é um ótimo exemplo de como funciona o que chamamos de ciclo virtuoso das Unidades de Conservação.
O ciclo virtuoso funciona com 1) a visitação: que acontece com turistas demandando produtos e serviços da população local, que para isso precisam dos ativos naturais conservados; 2) a geração de renda: com as pessoas da região gerando impacto econômico na comunidade; 3) a conservação: com o turismo trazendo visibilidade para a necessidade de conservar o meio ambiente. Para saber mais sobre o ciclo virtuoso, clique aqui.
Mais do que a geração de renda pura e simples, para tudo fazer sentido é importante que as pessoas da comunidade se sintam parte do que significa um parque nacional. Afinal, são elas que moram ali, no lugar que é objeto de desejo de viagem de milhares e milhares de pessoas.

“Desde o começo, muito antes de eu virar gestora, sinto que o pessoal do entorno abraçou o Parque Nacional da Furna Feia. Elas amam esse lugar. O nosso trabalho, em parceria com diversas organizações, foi de preparar. Sempre falamos para que se preparassem, porque o turismo iria chegar. E agora chegou”, comenta Lucia Guaraldo.
A mudança foi sentida na vida real de quem mora no entorno da Unidade de Conservação. Graciélia Silva, moradora da comunidade Vila Nova I, em Baraúna, é uma destas pessoas. Antes da abertura do parque, ela se inscreveu no curso de capacitação para se tornar uma condutora de visitantes – e hoje é uma das 12 profissionais credenciadas para a atividade.
“A minha vida mudou após a abertura do parque. Tenho a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas e ainda ganho um extra, que me ajuda muito nas despesas”, explica Graciélia.
“Hoje me vejo assim: antes eu era coadjuvante dessa história e hoje me sinto uma atriz principal. Amo ser condutora do Parque Nacional da Furna Feia”, complementa.

A história de Graciélia é uma entre diversas outras do entorno do parque, local em que as comunidades vivem principalmente da agricultura familiar. Foi ali que nasceu, 8 anos antes da abertura do Parque, o programa de Turismo de Base Comunitária (TBC), que reúne atividades como produção de mudas, mel, frutas, gastronomia regional, hospedagem e artesanato – em que se destaca o Prendas Furna Feia.
“Esse trabalho do Prendas, especialmente com a cerâmica, a gente sente bem forte na comunidade Vila Nova I, em Baraúna. O ICMBio e a prefeitura trabalharam para oferecer o curso para a comunidade e o movimento deles foi uma coisa muito rápida. Começaram a produzir cerâmica por conta própria e, agora, com a chegada do turismo, não só vendem como também ofertam oficinas para visitantes”, conta Lucia Guaraldo.
Quem também acreditou desde o começo do projeto do TBC foi Lúcia Helena, que, além de gestora de cursos de artesanato e bordado, é também proprietária da hospedagem familiar Pousada Rancho Santa Helena, na comunidade Vertentes, em Baraúna. Aliás, foi na casa dela que o casal Letícia e Dennis, do Entreparques, se hospedaram quando estiveram lá.
“Minha principal renda desde que o Parque Nacional da Furna Feia abriu está sendo a pousada. Abri para receber os visitantes do parque, e a partir da abertura aumentou muito o fluxo de turistas na cidade. Me sinto muito feliz em poder participar deste processo, uma coisa tão boa para o nosso município de Baraúna. É uma troca muito boa, não só de experiência mas financeira também”, explica Lúcia Helena.
Parque Nacional da Furna Feia: atrativos e atividades
As mais de 1.500 visitas nos primeiros meses de abertura do parque se concentraram na caverna Furna Nova – por enquanto o único atrativo do Parque Nacional da Furna Feia que está aberta à visitação. De acordo com o Plano de Manejo Espeleológico e com as diretrizes de turismo sustentável, o local recebe no máximo de 80 visitantes permitidos por dia, com acompanhamento obrigatório de condutor.
A Furna Nova recebeu estrutura para que as pessoas possam entrar nela de maneira segura: através de uma fenda na rocha, o visitante entra na caverna que se abre em uma descida rumo ao salão principal.
Além de outros atrativos que devem ser abertos ao longo de 2026 (veja mais abaixo), o Parque Nacional da Furna Feia reserva outras riquezas. Com uma flora típica da Caatinga, a região conta com dezenas de espécies animais – com destaque para as aves, que ganharam, inclusive, um livro só para elas.
Além disso, a Unidade de Conservação conta com pinturas rupestres e potencial paleontológico.
Veja agora quais são os atrativos e atividades que estão em processo de desenvolvimento, com projeção de serem abertas no Parque Nacional da Furna Feia ao longo de 2026.
Furna Feia: com potencial para ser o ponto alto da visita à Unidade, a caverna que dá nome ao parque está com o Plano de Manejo Espeleológico em fase final. Com 739m de desenvolvimento, ela possui vários salões e vai oferecer uma travessia espeleológica: visitantes entrarão de um lado e sairão pelo outro, em uma experiência subterrânea de verdade.

Abrigo do Letreiro: com previsão de contar com acessibilidade para cadeirantes, o Abrigo é uma caverna menos ampla, mas que conta com outro diferencial. É nela que estão diversas pinturas rupestres, de uma linha conhecida como tradição agreste. No local também está prevista a construção de uma estrutura que funcionará como base de campo.
Centro de Informações Turísticas: o Parque Nacional da Furna Feia ainda não conta com um centro de visitantes. O local, porém, já está em processo de desenvolvimento, em uma escola municipal na entrada de Baraúna, na comunidade de Vertentes, bem próximo à entrada do parque. O espaço será o ponto de encontro com condutoras e condutores, além de também funcionar como loja do Turismo de Base Comunitária, espaço para cursos, entre outros.
Cicloturismo: na região da Serra Mossoró está sendo implementada uma trilha de 52km, na área do parque e do entorno, que deve contar inclusive com camping para ciclistas.
ESFERA ADMINISTRATIVA
Federal
DATA DE CRIAÇÃO:
5 de junho de 2012
ESTADO:
Rio Grande do Norte
MUNICÍPIOS:
Baraúna e Mossoró
BIOMA:
Caatinga
ÁREA TOTAL:
8.517 hectares
INFORMAÇÕES SOBRE A VISITAÇÃO
MAIS INFORMAÇÕES:
A entrada da Furna Nova fica a cerca de 25 minutos do centro de Baraúna e está aberta de terça a domingo, das 7h às 17h.
O Parque Nacional da Furna Feia está a cerca de 200km de do Aeroporto de Fortaleza/CE, pela BR-116, e a cerca de 300km do Aeroporto de Natal/RN, pela BR-304.
É sempre bom lembrar que é obrigatório o acompanhamento de um condutor habilitado. Os agendamentos podem ser feitos neste link.