Parques estaduais receberam mais de 4 milhões de visitas em 2023, revela pesquisa inédita do Semeia
Pela primeira vez, relatório compila dados de visitação de parques estaduais e traz um panorama mais preciso da visitação no país. Parques brasileiros receberam 15,9 milhões de visitas no mesmo ano, somente 28,4% do potencial de visitação sustentável no Brasil
18/03/2025

A pesquisa inédita Visitômetro dos Parques do Brasil: dados, desafios e boas práticas do monitoramento da visitação, lançada hoje (17) pelo Instituto Semeia – organização filantrópica, sem fins lucrativos, que trabalha para potencializar o desenvolvimento socioeconômico sustentável de parques e unidades de conservação brasileiras – apresenta informações que ampliam a compreensão sobre a visitação em parques de todo o país (nacionais e estaduais), a partir da coleta e análise de dados exclusivos junto aos órgãos ambientais nos âmbitos federal e estadual.
De acordo com o estudo, os parques estaduais receberam 4,1 milhões de visitas em 2023, distribuídas por 17 Unidades Federativas — dado inédito para o setor. Os estados com maior fluxo foram São Paulo, com mais de 1 milhão de visitas, e Ceará, com 636 mil. Em São Paulo, 29 parques receberam visitantes, dos quais 13 tiveram mais de 10 mil visitas registradas. No mesmo ano, 11,8 milhões de visitas foram registradas nos parques nacionais (74% do total).
Dos 308 parques naturais considerados no levantamento, 165 (54%) apresentaram algum tipo de monitoramento do número de visitas no ano de 2023, utilizando diferentes métodos de contagem, seja direta ou por estimativas. Entre o restante, 136 parques (44%) não apresentaram contagem de visitas ou estavam fechados para visitação. Apenas 7 parques (2%) não apresentaram informações para a pesquisa.
Renata Mendes, diretora executiva do Instituto Semeia, explica a importância desses dados e como eles são fundamentais para o planejamento, gestão e panorama preciso dessas áreas: “Com o levantamento contínuo de informações relacionadas à visitação, é possível direcionar ações voltadas à melhoria da infraestrutura, de modo que os parques atendam tanto aos interesses dos visitantes quanto aos objetivos de conservação ambiental”.
Pela primeira vez, um estudo teve acesso a dados detalhados sobre a visitação em parques estaduais, permitindo uma visão mais abrangente pelo país. Entre as unidades que disponibilizaram informações ao longo da pesquisa, foi possível reconfigurar o tradicional ranking dos 10 parques mais visitados do Brasil, que agora passa a incluir quatro parques estaduais — um na região Norte, dois no Nordeste e um no Sudeste. Confira o ranking:

A evolução do número de visitas nos parques naturais brasileiros monitorados entre 2012 e 2023
A pesquisa também destaca a evolução do número de visitas nos parques naturais brasileiros monitorados entre 2012 e 2023, partindo de pouco mais de 6 milhões e batendo a marca de 15,9 milhões, respectivamente – crescimento de mais de 160%. O aumento da visitação observada está relacionado com dois movimentos muito importantes: a ampliação do número de UCs que monitoram os dados de visitação – o total de parques monitorados é três vezes maior que em 2012 – e o aumento efetivo do número de visitas.
Mariana Haddad, gerente de políticas públicas do Semeia, destaca que os parques brasileiros têm o potencial de criar ainda mais oportunidades de inclusão e bem-estar, além de atuarem como motores de desenvolvimento sustentável. “De acordo com nosso estudo “Parques como vetores de desenvolvimento para o Brasil – Instituto Semeia”, os parques naturais brasileiros poderiam receber quatro vezes mais visitas, cerca de 56 milhões ao ano. Caso alcancem esse potencial, esses parques podem contribuir com até R$ 44 bilhões para o PIB do país e gerar cerca de um milhão de postos de trabalho”, ressalta.
Mata Atlântica teve mais de 10,4 milhões de visitas em 2023
Atualmente, o Brasil conta com parques naturais distribuídos pelos sete biomas, que estão espalhados pelos estados do país. Cada um deles oferece uma combinação única de belezas e atrativos naturais para os visitantes. O levantamento mostra que a Mata Atlântica lidera o ranking dos biomas mais visitados em 2023, com mais de 10,4 milhões de visitas. Este dado está relacionado não apenas à quantidade de parques nesse bioma (153 unidades, quase metade dos parques naturais do País), mas também à alta concentração populacional em suas áreas próximas, especialmente na região Sudeste.
Além disso, a predominância da visitação no bioma está ligada à presença de alguns dos parques nacionais mais visitados, como o Parque Nacional da Tijuca. A Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro, foi o segundo mais visitado em 2023, com aproximadamente 2,5 milhões de visitas.
Os desafios multifacetados do monitoramento da visitação
Apesar do avanço nos últimos anos, ainda existem diversos desafios a serem enfrentados para garantir um acompanhamento eficiente e abrangente da visitação em parques naturais. A pesquisa aponta a falta de apoio político e de priorização pelos órgãos ambientais, de recursos financeiros, de recursos humanos e do uso de ferramentas como os principais obstáculos para o avanço do monitoramento da visitação no Brasil.
“A superação desses desafios exige ações coordenadas e concretas de diversos atores, do nível nacional ao local, no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para o fortalecimento da visitação sustentável, e, por consequência, para o monitoramento e avaliação constante dessas”, salienta Mariana.
Ao longo das entrevistas, o estudo identificou uma série de iniciativas inspiradoras que utilizam tecnologia para promover e monitorar a visitação em Unidades de Conservação pelo Brasil. Essas ações incluem desde manuais de monitoramento e painéis de indicadores até sistemas de agendamento e sensores automáticos para a contagem de visitas.
“Diversas regiões do Brasil vêm implementando essas ações, enquanto combinam boas práticas e tecnologia. Essas experiências bem-sucedidas podem servir de referência e incentivar outros estados a adotarem abordagens similares, fortalecendo a gestão dessas áreas em nível nacional”, destaca a gerente de políticas públicas.
Por fim, Renata Mendes reforça que os parques brasileiros podem se tornar destinos que, cada vez mais, encantam visitantes, estimulam a economia regional e ajudam a proteger a biodiversidade. “Dentro dessa visão, o monitoramento da visitação é uma peça central. Conhecer o visitante, seja do ponto de vista quantitativo, mas também dos padrões das visitas, é essencial para que a gestão da unidade atenda tanto à conservação dos ecossistemas naturais quanto às atividades de recreação em contato com a natureza”, conclui.