Trilha Amazônia Atlântica: conhecendo o lado litorâneo do maior bioma brasileiro
Localizada no Nordeste do Pará, a travessia conta com 7 trechos estruturados ao longo de quase 500km.
24/10/2024
Foto: Reprodução/Trilha Amazônia Atlântica
Quando pensamos no bioma amazônico, é praticamente inevitável que a primeira imagem que venha à mente sejam florestas densas e rios caudalosos. Mas este bioma especialíssimo, que ocupa cerca de 49% do território nacional, reserva muito mais do que se pode imaginar: como as paisagens e riquezas que a Trilha Amazônia Atlântica apresenta ao longo de 468km, margeando o litoral brasileiro.
Não que durante os 7 trechos desta travessia não existam florestas e rios – existem, sim. Mas a proximidade com o mar, a formação de serras, a passagem por comunidades quilombolas e casas do forno apresentam uma Amazônia ainda mais diversa e ampla do que a que existe no imaginário popular.
Com o intuito de evidenciar a imensa riqueza natural brasileira, com a valorização dos nossos biomas e conectando com comunidades locais, a série As Travessias Mais Legais do Brasil, parceria do Instituto Semeia com a Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, vai até o Nordeste do Pará para mostrar a você a Trilha Amazônia Atlântica.
Este texto é o sexto da série especial, que já passou pelas seguintes travessias: Caminho da Fé, Caminho das Ararunas, Caminhos do Rio Negro, Caminho dos Veadeiros e Transcarioca.
Tudo pronto? Então vamos conhecer um pouco melhor a Trilha Amazônia Atlântica.
A Trilha Amazônia Atlântica
O que significa a Amazônia Atlântica? Ela é a combinação de nuances da Amazônia, porém com características da faixa de litoral do oceano Atlântico do estado do Pará. Um aspecto interessante é que toda a região está protegida das águas barrentas do rio Amazonas e, também, da vazão do rio Pará.
Para além da maior faixa de praias da Amazônia brasileira – ideal para o turismo de sol e mar –, esta região paraense conta com a incrível Trilha Amazônia Atlântica. Percorrendo 468km, ela liga a capital Belém até a Serra do Piriá, já na divisa com o Maranhão. Pelo caminho, passa por 13 áreas protegidas, com 7 unidades de conservação e 6 territórios quilombolas. O caminho é mais comumente feito de bicicleta ou a pé, mas também pode ser percorrido a cavalo.
“É uma travessia linda demais. É uma sensação maravilhosa enquanto você pedala ou caminha pelas trilhas, as pessoas podem esperar muito mais do que elas pensam. Experiência de contemplação da natureza, de visuais lindos e de interação com as pessoas da comunidade que é inesquecível”, conta Reginaldo Silveira, voluntário e coordenador da Trilha Amazônia Atlântica no município de Bragança.
Além de atuar como vigilante, ele também é condutor ambiental na região – e teve a experiência única de fazer a travessia completa uma vez, saindo de Belém e completando o percurso em 4 dias de bicicleta. Ele diz, no entanto, que não sabe nem contar quantas vezes já percorreu pequenos trechos dela.
“É algo que eu sempre falo para as pessoas: vai caminhar ou pedalar em um pedacinho da trilha. Toda vez que eu estou pedalando por ela, a sensação é sempre ímpar, sempre única, nunca é igual. É muito pai d’égua!”, comenta Reginaldo, utilizando uma expressão paraense que significa “excelente, fenomenal” – e explica um pouco do porquê da linguagem regional do Pará ser reconhecida como patrimônio cultural imaterial do estado.
Por onde passa
A Trilha Amazônia Atlântica é um verdadeiro corredor ecológico de conservação no Norte do Brasil. Durante os quase 500km da travessia, quem visita passa por nada menos do que 17 municípios e por 49 comunidades tradicionais. Dentre eles, como citamos acima, estão 6 territórios quilombolas.
Esta experiência com as comunidades locais paraenses também proporciona uma imersão cultural na Amazônia profunda, que complementa toda a experiência de conexão com a natureza. Afinal, a ocupação humana tradicional também é parte do contexto natural. Na região bragantina, por exemplo, a existência das famosas casas do forno permite uma imersão na cultura da produção de farinha – os locais, inclusive, dizem que a cidade de Bragança produz “a melhor farinha do mundo”.
Neste ponto, Reginaldo explica que as pessoas erroneamente utilizam o nome “casa de farinha” para se referir a estes espaços.
“As comunidades chamam de casa do forno, que é o nome correto. É preciso respeitar isso. E é isso mesmo, porque a casa do forno é onde se faz a farinha. A experiência de visitar e conhecer esse processo está agregada à Trilha Amazônia Atlântica. Pode escrever aí: é a melhor farinha do mundo”, brinca Reginaldo, entre risos.
A conexão cultural passa também por outro vínculo muito forte na região Nordeste do Pará, que é a cultura de caranguejos e ostras em uma das maiores faixas de manguezal preservados do planeta Terra. Esta integração e a valorização com as pessoas que moram na região Amazônia Atlântica fazem da travessia algo único.
Um ponto bastante relevante desta travessia é que ela compõe a Trilha Nacional Oiapoque X Barra do Chuí, que conecta todo o litoral do Brasil por quase 10 mil quilômetros.
Na Trilha Amazônia Atlântica, os visuais de cair o queixo traduzem uma combinação única no Brasil: trilhas em meio a florestas com fauna e flora ímpares, áreas de manguezais, cachoeiras e a Serra do Piriá, com um mirante fantástico.
Por que percorrer a Trilha Amazônia Atlântica
Se você chegou até aqui, já entendeu um pouco da fusão natural-cultural que forma esta travessia. O simples fato de trazer uma Amazônia à beira do oceano Atlântico já deveria ser suficiente para fazer qualquer trilheira ou trilheiro conhecer pelo menos um trecho dela. Mas ela vai além.
O envolvimento da comunidade local auxilia na consolidação do ecoturismo na região – fundamental para a conservação dos recursos naturais e funcionando como ferramenta de preservação e desenvolvimento econômico.
A facilidade de chegar à Trilha Amazônia Atlântica também é um facilitador. O início da travessia é na Catedral da Sé, no Centro Velho de Belém, um dos maiores centros urbanos do Norte do Brasil. O início do percurso é o mesmo do tradicionalíssimo caminho do Círio de Nazaré.
Assim como grande parte das travessias que fazem parte da Rede Brasileira de Trilhas, esta também é totalmente sinalizada. As famosas pegadas amarelas e pretas, aqui em forma de caranguejo e pescador, formam os caminhos a serem seguidos.
“As trilhas são totalmente sinalizadas e facilitam demais para quem quer fazer qualquer trecho”, finaliza Reginaldo, que fez parte da equipe que demarcou e colocou as placas nos caminhos.
INFORMAÇÕES PARA VISITAR A TRILHA AMAZÔNIA ATLÂNTICA
Hospedagem, restaurantes e guias
O site oficial da Trilha Amazônia Atlântica traz muitas informações para quem está planejando fazer o caminho completo ou para algum trecho.
Confira informações de apoio em diversas cidades da região.
Para se planejar, a demarcação da travessia completa está no aplicativo eTrilhas. Você pode baixá-lo clicando aqui.
Como chegar
A Trilha Amazônia Atlântica se inicia na cidade de Belém, capital paraense. A rodoviária da cidade, para quem vai de ônibus, e o Aeroporto Internacional de Belém são boas opções.