Parques urbanos do Brasil: o que aproxima e o que afasta as pessoas destes locais
Segundo a pesquisa Parques do Brasil 2024 - Percepções da População, 80% das pessoas conhecem pelo menos um parque urbano e 82% já visitou um parque deste tipo.
13/05/2024
Parque do Ibirapuera (São Paulo-SP)
Nas últimas décadas, a população brasileira tem se concentrado cada vez mais em grandes centros urbanos e menos em cidades menores e mais atendidas por áreas verdes. De acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 115 milhões de pessoas (ou 56% da população) vivem em pouco mais de 5% dos municípios do país. Com base nestes números, é seguro dizer que para a maior parte de brasileiras e brasileiros a rotina diária consiste em poucas áreas verdes, longa exposição à poluição, muitas horas de trânsito e um cotidiano acelerado.
A agitação destas aglomerações no entorno de grandes cidades causa diversas consequências nocivas ao ser humano – tanto para a saúde mental quanto física. Para estes dois casos, um dos antídotos mais eficazes está presente em todos estes centros urbanos, mas nem sempre tão utilizado pela população em geral: os parques urbanos.
Como exemplo da força positiva que a visitação a estes locais pode trazer, podemos citar dois casos. Um deles é a iniciativa Parques Saudáveis, Pessoas Saudáveis – encabeçada pela WWF e que no Brasil tem a parceria do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEPAE) e do Instituto Semeia (veja mais sobre ele clicando aqui). Outro é um estudo da Universidade de São Paulo, que aponta que morar próximo a um parque urbano pode reduzir o risco de infarto.
Segundo Lis Leão, pesquisadora sênior do IIEPAE, “diversos estudos têm demonstrado o potencial do contato com a natureza para as pessoas em todas as idades”. O recente mapa de evidências publicado por seu grupo de pesquisa, o e-Natureza, mostrou que as intervenções baseadas na natureza podem contribuir significativamente para manter e melhorar as habilidades funcionais, a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar da população idosa.
“Os conhecimentos obtidos a partir desse mapa de evidências podem informar o desenvolvimento de programas e políticas para promover o envelhecimento saudável e incentivar cuidados equitativos nos ambientes naturais”, enfatiza Leão.
“Já na outra ponta, existem evidências sobre o quanto os ambientes naturais são necessários ao bem-estar emocional, mental e físico infantil, o que traz implicações para toda a vida, uma vez que crianças com baixa exposição aos ambientes naturais ao ar livre tendem a apresentar pior saúde mental na fase adulta”, comenta a pesquisadora. “Mas para tanto, independentemente da faixa etária, é necessário projetar esses espaços, considerando acessibilidade, proximidade, segurança e diversidade de elementos naturais”, acrescenta.
Mas qual a relação que as pessoas destes grandes centros urbanos têm com os parques, sejam eles naturais ou urbanos? Em abril, o Instituto Semeia apresentou a pesquisa Parques do Brasil 2024 – Percepções da População, com dados que apontam, entre outras informações, o que aproxima e o que afasta as pessoas destes espaços públicos.
Neste texto, o foco é apresentar achados da pesquisa, especialmente sobre os parques urbanos. Os dados sobre motivos e barreiras para a visitação em parques naturais estão neste link.
O que motiva as pessoas a visitarem os parques urbanos do Brasil?
Antes dos dados da pesquisa, é importante contextualizar o que são parques urbanos: locais públicos com natureza e área verde, localizadas dentro das cidades. A visitação é uma das premissas principais destes espaços, afinal, eles permitem a interação direta com o ambiente natural.
Na pesquisa realizada em 10 regiões metropolitanas do país, 80% das pessoas entrevistadas afirmaram que conhecem pelo menos um parque urbano do Brasil – e 82% já estiveram em um parque como este. Ou seja: quem conhece, já foi ao menos uma vez.
Fica claro, analisando o estudo, que espairecer e dar um tempo na correria do dia a dia é uma das principais motivações para visitar uma unidade como esta. Os principais motivos citados são “sair de casa e passear” (48%), “descansar, relaxar” (39%) e “contemplar a natureza” (29%).
Na sequência estão o que o Semeia chama de motivações sociais e funcionais – como “levar as crianças para brincar” (27%), “fazer caminhadas/correr” (21%), “encontrar amigos” (18%) e “fazer piquenique” (16%).
A vocação multiuso dos parques urbanos do Brasil fica ainda mais clara quando vamos adiante nestas motivações: atividades de lazer e entretenimento que poderiam ser feitas em outro lugar, mas têm nestes espaços a preferência de uma parcela da população. Como exemplo, estão “praticar atividades físicas” e “apresentações culturais/shows/feiras” (ambas com 10%), “passear com pet” (8%) e “namorar” (8%).
O que impede as pessoas de visitarem os parques urbanos do Brasil?
O primeiro ponto que chama a atenção sobre as barreiras à visitação é o fato de que, mesmo estando dentro das cidades e serem teoricamente mais acessíveis, os parques urbanos são menos conhecidos por quem respondeu à pesquisa. Todas as regiões estudadas possuem diversos espaços como estes, mas, mesmo assim, 20% das pessoas não citaram nenhum parque. Como isso é possível?
A pesquisa revela que 65% das pessoas que não mencionaram nenhum parque urbano do Brasil pertencem às classes sociais menos favorecidas: 51% pertencem à classe C e 14% são das classes D e E.
Predominantemente, os parques urbanos costumam estar localizados nas regiões mais nobres das cidades, geralmente onde moram as pessoas das classes A e B. O que nos leva a outras respostas, especificamente relacionadas às barreiras da visitação: “distância, fica longe da minha casa” (30%) e “custo” (13%) – já que é necessário investir em transporte para visitar, além de alimentação e afins.
Outros fatores citados pelas pessoas entrevistadas podem ser considerados inerentes à vida moderna em grandes centros, como “não oferece segurança” (9%), “horários não se encaixam em minha rotina” (7%) e “em geral, estou cansado para ir a um parque” (8%).
Existem também os fatores que são relativos a gostos pessoais e, por esta razão, são mais complexos de serem alterados. Entre eles, estão as respostas “sou caseiro” (21%) e “prefiro outros tipos de passeio” (14%).
Para as outras questões, entretanto, existem alguns pontos que podem ser trabalhados para aproximar as pessoas destes locais.
O que pode ser feito para aproximar a população dos parques urbanos do Brasil?
Uma das reflexões a serem feitas é se os parques urbanos do Brasil têm promovido experiências positivas para as pessoas. Como foi citado no primeiro tópico deste texto, eles têm cumprido este papel – afinal, as pessoas que conhecem estes locais costumam também frequentar.
Outra reflexão é: como fazer com que mais pessoas conheçam estas áreas públicas?
A população precisa saber que os parques urbanos existem, o que eles podem fazer pela saúde delas e entender a pluralidade do que pode ser desenvolvido dentro destes espaços (prática de esportes, atividades de lazer, entretenimento e contato com a natureza dentro dos centros urbanos). Afinal, a visitação amplia a conscientização, a valorização e o desejo das pessoas estarem em contato com as áreas verdes.
“Apenas ao observar a imagem dos parques, já notamos que suscita um desejo de visitar esses espaços. Ainda há um grande espaço para o desenvolvimento de um tipo específico de marketing e comunicação voltado para fortalecê-los ainda mais. Muitas cidades possuem parques como referências históricas, arquitetônicas e turísticas, e todas essas características podem ser exploradas em sua divulgação”, comenta Mariana Haddad, coordenadora de conhecimento do Instituto Semeia.
Como os estudos citados no início do texto comprovam, a visitação a parques, naturais e urbanos, têm um valor exponencial para a saúde física e mental, além da conservação ambiental. Mas as pessoas precisam saber que elas têm estes equipamentos à disposição.
A divulgação e a comunicação podem fazer a diferença para que as pessoas se apropriem cada vez mais dos parques brasileiros.
Como saber mais sobre a relação entre natureza e saúde?
Nos dias 23 e 24 de agosto de 2024, o Hospital Israelita Albert Einstein promove o II Simpósio Internacional de Natureza & Saúde: Construindo Pontes para o Bem-Estar Humano e a Conservação. Para discutir ações transformadoras que reúnam toda a sociedade em busca de um futuro saudável e sustentável, o evento reúne palestrantes renomados e especialistas na relação entre saúde e natureza. Saiba mais e participe.