Muito além do mapa e bússola: como se preparar antes de uma trilha na natureza e como isso pode auxiliar a sua experiência
Ao conhecer um pouco mais do local em que você vai praticar uma atividade, o passeio vai ser muito mais agradável e proveitoso.
31/07/2025

A relação entre o ser humano e a natureza traz uma série de vantagens comprovadas cientificamente, da redução da pressão arterial à diminuição do estresse. Mesmo durante uma atividade ao ar livre, porém, algumas pessoas não conseguem perceber o valor dessa conexão e acabam agindo de forma automática. Um dos caminhos para viver, de fato, o ambiente natural são a orientação e a navegação, termos que vão muito além do conceito mapa e bússola.
Nem todo mundo precisa ser especialista em mapas – é claro que é possível ter ótimas experiências na natureza sem necessariamente ser uma autoridade no tema. Mas entender melhor o contexto de parques e ambientes naturais, observar a vegetação, o relevo e compreender tudo aquilo que está à sua volta, faz com que a experiência de cada pessoa seja amplificada.
Mas como incrementar essa realidade? Uma das iniciativas recentes do Instituto Semeia foi instituir uma parceria com a Outward Bound Brasil (OBB), que atua em diversas partes do mundo oferecendo programas para desenvolver o potencial de crianças, adolescentes e adultos por meio de experiências na natureza.
Fruto dessa parceria, no domingo (20/07), as instituições promoveram uma oficina de orientação e navegação para estudantes da Escola Estadual Benedito de Souza Lima, no Parque das Neblinas, em Mogi das Cruzes (SP). Realizada no Dia do Amigo, a ação fez parte da campanha Um Dia no Parque, e celebrou os 25 anos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). A iniciativa visou ensinar, na prática, noções de navegação com mapas, além de estimular cooperação, cuidado com o outro e com o meio ambiente.
“A orientação e a navegação são uma forma das pessoas se apropriarem da atividade que estão fazendo. Fazem com que as pessoas sejam ativas na trilha, que não sejam apenas passageiras do seu próprio passeio”, explica Álvaro da Matta, instrutor de campo e coordenador de programas da OBB, que desde 2019 tem como principal ocupação profissional a educação ao ar livre.

Com experiência como instrutor no Brasil e nos Estados Unidos, ele observa que muitas pessoas têm certas restrições ao mapa e bússola e, por antecipação, já se dizem péssimas em orientação na natureza. Nos cursos da OBB, entretanto, este contexto analógico do mapa e bússola tem papel fundamental.
“A principal razão é que a tecnologia não substitui o conhecimento. Não somos contra GPS e o celular, é claro que não. Mas o uso do mapa e bússola tem uma função cognitiva, intelectual, que consideramos importantíssima. Não é só seguir um caminho, é vivenciar por inteiro e se tornar parte daquilo”, explica Álvaro.
Aventura não é se colocar em situações de risco
Existe um conceito equivocado de que o turismo de aventura envolve estar em situações arriscadas no ambiente natural. A verdade é muito diferente disso (aliás, encontre aqui parques naturais para realizar atividades de aventura).
O simples fato de estar na natureza pode ser considerado aventura. Entretanto, é preciso conhecer os próprios limites e compreender o ambiente em que você estará. E, aqui, a orientação e a navegação são fundamentais.
“Aventura envolve planejamento e muito conhecimento, porque traz muitas perguntas que não têm respostas. O Amyr Klink, que é uma figura referência na aventura, por exemplo: imagine o tanto de coisas que poderia acontecer na travessia do Atlântico a remo que ele fez. Quanto tempo ele se preparou? Quem tem maior humildade e autocrítica consegue fazer as coisas mais incríveis, e não o contrário”, contextualiza Álvaro.
Respondendo à pergunta do instrutor da OBB, Amyr Klink passou dois anos se preparando para a travessia do oceano Atlântico, da Namíbia à Bahia.
Como se preparar e como vivenciar uma trilha
Nos cursos mais recentes que Álvaro ministrou pela OBB, muitos guias e condutores de turismo têm participado. Nas conversas entre eles, um dos temas comuns é o de que as pessoas praticam atividades em trilhas como passageiras. Ou seja: terceirizam não apenas a condução com um guia contratado, mas não se atentam a nenhum detalhe, nem antes e nem durante a prática.
“Nem todo mundo precisa aprender as técnicas de mapa e bússola. Mas, entrando nesse modo automático, as pessoas perdem muito no contato com a natureza. A navegação é uma forma de estar mais próxima do seu passeio”, comenta.
Junto com o coordenador da Outward Bound Brasil, trouxemos breves dicas para quem procura essa maior conexão nas atividades na natureza.

Pesquisa – conheça o parque que você vai visitar e se prepare da melhor maneira
Procure saber o máximo sobre o local: qual o bioma, qual bacia hidrográfica, qual a história da região, qual a altitude. Conhecendo um pouco mais do local previamente, o passeio vai ser muito mais agradável e proveitoso, inclusive para saber se o seu preparo físico é condizente com a atividade que você vai realizar.
“Quanto mais você souber, menor vai ser a chance de você perguntar para o guia quanto tempo está faltando para terminar ou se ainda tem muita subida no caminho”, lembra Álvaro, entre risos.
Orientação – saiba como se conduzir durante a trilha
Existem várias formas de se fazer uma trilha. Pode ser com um condutor de turismo, o circuito pode ser autoguiado (com placas e orientações) ou você mesmo pode fazer o caminho de forma autônoma. Especialmente neste último caso, é fundamental que você tenha o máximo de informações possíveis sobre as dificuldades e possibilidades.
Tempo e clima – o que espera por você
Pesquisar a respeito da previsão do tempo e sobre a duração aproximada da trilha é fundamental. Sabendo disso, você vai conseguir saber exatamente que tipo de vestimenta usar, se é preciso levar mais uma muda de roupa e quais equipamentos são importantes para o passeio.
Conhecer o tempo e o clima também auxiliam a definir quanto e quais alimentos levar para a trilha.
Parque – quais são as regras
Cada unidade de conservação tem regras específicas, especialmente em relação a gestão de resíduos e outros detalhes. Existem parques em que só é possível realizar trilhas com a condução obrigatória de um profissional capacitado, por exemplo.
Não seja um passageiro do seu passeio – preste atenção no caminho:
Atente-se: esteja em conexão com o que você está fazendo: observe os diferentes tipos de vegetação, as diferenças de altitude, os sons, os cheiros.
Além dos benefícios para a saúde, essa atenção ativa durante a trilha é a melhor forma para que a orientação e a navegação sejam suas aliadas – mesmo sem ser um especialista em mapa e bússola.
“Seja um ativo no seu próprio passeio, não se permita ser só um passageiro que está sendo carregado. De forma intencional, preste atenção nas curvas que você fez, os fenômenos da paisagem, as árvores, os nomes dos lugares. Imagine se acontece algo e você tem que voltar sozinho da trilha. Você conseguiria”, provoca Álvaro.
A navegação e a orientação são formas de estar mais próximo do seu passeio, fazendo com que a conexão com a natureza seja real, sustentável e segura.