Caminhos do Rio Negro: por água e por terra, a rede de trilhas para conhecer a Amazônia

Unindo diversas Unidades de Conservação, travessia traz experiências únicas para roteiros que vão desde 1 dia a mais de 1 mês

19/09/2023

Foto: Josângela Jesus

Provavelmente a região do país mais conhecida mundo afora, a Amazônia possui riquezas naturais e culturais que grande parte da própria população brasileira desconhece. Neste novo capítulo da série especial sobre as mais legais e desafiadoras travessias do Brasil, uma parceria com a Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, é para lá que embarcamos – mais precisamente para os Caminhos do Rio Negro.

Diferentemente de grande parte das trilhas por todo o país, este complexo tem uma característica especial: aproveitando-se da vocação local, os caminhos podem ser percorridos por vias terrestres e por vias aquáticas.

Para relembrar, no primeiro texto da série falamos sobre o Caminho da Fé, entre Minas Gerais e São Paulo – clique aqui para conhecer mais sobre ele.

Introdução feita, agora o convite: venha conosco conhecer melhor os Caminhos do Rio Negro.

Foto: Josângela Jesus

Os Caminhos do Rio Negro

A criação desta trilha de longo curso, por si só, tem uma trajetória peculiar. Ela foi criada no âmbito do Mosaico do Baixo Rio Negro (MBRN), que reúne nada menos do que 14 Unidades de Conservação do estado do Amazonas em mais de 7 milhões de hectares. 

Atualmente, os Caminhos do Rio Negro têm cerca de 630km mapeados de trilhas – mas isso não significa que esse é o tamanho total.

“A oportunidade de trilhas pode chegar muito além disso, mas é um trabalho pouco a pouco. Não estamos com pressa, o que importa é que evolua em um ritmo sustentado e sustentável”, explica Jôsangela Jesus, idealizadora do Caminhos do Rio Negro.

Todas as trilhas estão no estado do Amazonas, entre os municípios de Barcelos, Iranduba, Manaus e Novo Airão. E não é uma tarefa fácil identificar todas as trilhas. Afinal, estamos falando de diversos caminhos terrestres, que se cruzam com um emaranhado de rios e igarapés em uma região com uma biodiversidade absolutamente fascinante.

Entre as trilhas terrestres, a variedade é imensa: desde trechos curtos, de 500m, até travessias de dezenas de quilômetros, que demandam dias de caminhada. Além disso, existem as conexões aquáticas entre elas – que os Caminhos do Rio Negro estimulam que sejam feitas a caiaque, por dentro de igapós (florestas inundadas) ou mesmo rios (veja mais sobre as trilhas abaixo).

“As possibilidades são muito grandes. Hoje está muito forte a questão dos trechos, de pessoas que vão para fazer um ou mais trechos específicos do caminho, sejam eles aquáticos ou terrestres”, comenta Jôsangela.

Foto: Josângela Jesus

Por este ponto, é possível perceber quanto os Caminhos do Rio Negro são democráticos. Afinal, é possível fazer trechos de um dia, como também conectar travessias aquáticas e terrestres e passar um mês trilhando pela Amazônia. Em comum, a beleza estonteante e a riqueza natural e cultural de uma das regiões mais extraordinárias do nosso país – e tudo isso passando por diferentes Unidades de Conservação.

Por onde passa

Nos mais de 630km de trilhas mapeadas pelos quatro municípios que fazem parte dos Caminhos do Rio Negro, a imersão amazônica é um ponto comum. Seja qual forem os trechos a serem percorridos, uma coisa é consenso: você estará na Amazônia.

Apesar de parecer uma afirmação óbvia, a imensidão da floresta é algo inerente e que vai além da percepção que se tem por meio de fotos e vídeos. A vivência em um dos ecossistemas mais ricos de todo o mundo é marcante. E isso todas as trilhas dos Caminhos do Rio Negro oferecem.

A experiência, porém, vai além disso. Desde a criação do complexo de trilhas, um dos principais objetivos sempre foi integrar as Unidades de Conservação do Mosaico do Baixo Rio Negro e dar identidade a esse território. Mesmo com a imensidão nos mais de 7 milhões de hectares, existe uma integração entre os trechos – sejam eles urbanos, como a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Tupé, ou distantes dos centros comerciais, como o Parque Nacional do Jaú.

“Para além de trazer pessoas para conhecer a Amazônia, os Caminhos têm uma ideia de fortalecer a identidade e apresentar as UC’s às pessoas. Mas também queremos incentivar as pessoas da comunidade local e que seja um vetor de desenvolvimento sustentável”, diz Josângela.

Foto: Bergsan Sampaio

Por que conhecer os Caminhos do Rio Negro

Para começar, vamos parafrasear Christoph Jasper, gestor do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque: “um brasileiro não pode viver sem conhecer a Amazônia”. Além da conexão única com a natureza, os Caminhos do Rio Negro são uma oportunidade única de conhecer um Brasil que grande parte das pessoas do país ainda não conhece.

Conhecer por dentro a floresta tropical mais famosa do mundo de perto, e de um jeito especial: caminhando por trilhas de longo curso ou viajando pelas trilhas aquáticas de caiaque. Isso, por si só, já é um motivo mais do que suficiente. Mas vai além disso, como nos conta Josângela:

“Já ouvi muito depoimento de pessoas que têm vivências que transformam a vida, tanto dentro da floresta quanto nas comunidades que estão nos Caminhos. Existe uma mudança de olhar, de começar a perceber que as coisas são diferentes do que pensamos.”

Para quem opta por fazer uma travessia e pernoita durante alguma das trilhas, a imersão traz uma vivência diferente. Os Caminhos do Rio Negro dão a oportunidade de as pessoas conhecerem a riqueza cultural do território – que é menos conhecida do que a natural e a ambiental.

Apesar de aparentarem serem atrativos básicos, as trilhas com trechos nas comunidades locais já fazem com que algumas comunidades já comecem a se organizar para visitação: algumas já estão preparadas para o pernoite.

“Existem pernoites em casas das comunidades e também existem os acampamentos selvagens, com redes, nas áreas de igapós. É uma experiência incrível”, comenta Josângela.

Foto: Josângela Jesus

Alguns caminhos possíveis

Diferentemente de grande parte das travessias, os Caminhos do Rio Negro não têm uma forma linear. Como explicado neste texto, existem muitas e muitas formas de se conhecer a Amazônia por meio das trilhas deste complexo.

Todas as trilhas terrestres têm baixa variação de altitude. Conheça agora algumas delas.

Travessia de caiaque Jaú-Novo Airão: desde 2022, este foi um trecho trabalhado com potencial para ser o carro-chefe de toda a travessia. São 125km de travessia aquática, feita durante quatro dias por transporte não motorizado – especialmente o caiaque.

Trilha do Madadá: fica na APA da Margem Direita do Rio Negro. É um trecho que pode ser feito isoladamente, em um dia, com ida e volta. É um dos visuais clássicos dos Caminhos, com grutas, corredeiras e igarapés.

Trilha do Itaubal: fica dentro do Parque Nacional do Jaú. É uma trilha fácil, que pode ser percorrida em pouco menos de 1h – só de ida. Ela conta com apoios como pontes. Tem a belíssima cachoeira do Itaubal.

Trilha do Tupé: provavelmente a de mais fácil acesso a partir do centro de Manaus. Afinal, está a cerca de 25km do centro da capital amazonense. É uma praia com diversas trilhas.

É importante lembrar: estes exemplos são uma pequena mostra da variedade de trilhas que os Caminhos do Rio Negro podem oferecer. Além de trechos únicos, é possível fazer uma integração com trilhas diferentes no dia a dia – indo de caiaque, fazendo a trilha a pé, depois voltando, navegando de caiaque, faz outra trilha.

E o número de trilhas tende a aumentar. Em agosto de 2023, por exemplo, mais uma trilha foi sinalizada nos Caminhos: a Yhepassoni, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Puranga-Conquista, Manaus (veja mais aqui).  

“Já fiz uma quantidade absurda de trilhas e sempre tenho vontade de fazer mais”, conta Josângela.

“É transformador. Uma vez na Amazônia, você nunca mais esquece”, finaliza ela.

INFORMAÇÕES SOBRE OS CAMINHOS DO RIO NEGRO

– Antes da viagem, é importante entender quanto tempo você tem disponível e quais as opções disponíveis para seus planos. Aqui estão algumas opções de agências para auxiliar no seu roteiro:

Associação de Transportes Aquaviário e Turismo de Novo Airão (AATRA): (92) 99100-6437

Associação de Transporte Turístico Aquaviário de Novo Airão (ATTAQUANA): (92) 98427-9172

Comunidade Tatuyo – RDS Puranga-Conquista/Trilha Yhepassoni: (92) 98603-6336

Comunidade Tupé/Amazon Share: (92) 99304-3016

Sandventure: (92) 98448-2028

– Dúvidas e mais informações podem ser conseguidas por meio do Instagram oficial dos Caminhos do Rio Negro: https://www.instagram.com/caminhosdorionegro/.    

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