Dia do Turismo Ecológico: em um país de belezas abundantes, o que podemos aprender conciliando conservação e visitação 

Com milhares de unidades de conservação distribuídas por todo o território nacional, é importante aproveitar a data para compreender mais sobre a união desses dois aspectos complementares.

27/02/2025

O Dia do Turismo Ecológico, comemorado mundialmente em 1° de março, não é só mais uma data a ser marcada no calendário. Especialmente em um país como o Brasil, dotado de belezas naturais tão diversas e abundantes, com uma pluralidade de relevos e visuais única no mundo. 

Com milhares de unidades de conservação distribuídas por todo o território nacional, é importante aproveitar a data para compreender um pouco mais sobre a união da conservação ambiental e da visitação em áreas protegidas. 

Diversos estudos apontam que a demanda pelo turismo em áreas protegidas tem crescido de maneira significativa nos últimos tempos – e, defendemos, o ecoturismo é uma das principais ferramentas de apoio à conservação. 

Aproveitamos a proximidade com o Dia do Turismo Ecológico para conversar com Julio Itacaramby, um especialista no assunto, que integra a comunidade de bolsistas do Instituto Semeia, e defendeu sua tese de mestrado com o tema ‘O Ecoturismo como Ferramenta de Conciliação da Conservação e Visitação’.

“Trabalhei muito tempo como guia de turismo na Chapada dos Veadeiros e fazia muitas reflexões de como aquela atividade estaria contribuindo para a conservação. Tinha muitas perguntas sem respostas e o caminho que trilhei foi a pesquisa acadêmica”, relembra Julio. 

Dia do Turismo Ecológico: a diferença entre ecoturismo e turismo de natureza

Antes de entrarmos em alguns detalhes vinculando a conservação à visitação pública, é importante compreendermos algumas diferenças. Apesar de muitas vezes serem citados como sinônimos, turismo de natureza e ecoturismo não são exatamente a mesma coisa. De maneira bem simplificada pode-se dizer que: 

Turismo de natureza: é qualquer atividade que seja praticada em ambiente natural. 

Ecoturismo ou turismo ecológico: a diferença principal é que esta prática está atrelada a uma série de princípios, vinculados especialmente à contribuição com a conservação ambiental e às populações locais, e como instrumento de consciência ambiental.

Na literatura acadêmica sobre o tema, estes princípios do ecoturismo podem variar dependendo do autor ou da autora. Na tese de mestrado, Julio Itacaramby citou os que estão invariavelmente presentes: 

  • Satisfação do visitante
  • Atividade em áreas naturais conservadas
  • Minimização dos impactos ambientais
  • Estímulo à consciência ambiental 
  • Benefícios diretos para a conversação da natureza e à população local
  • Respeito à cultura local 
  • Apoio aos direitos humanos

Agora é a hora: descubra o nosso Brasil 

A quantidade de belezas naturais, a crescente procura por visitação em áreas protegidas, os desafios de gestão bem mapeados e o papel fundamental do ecoturismo neste processo são indicativos mais do que suficientes para provar que o Brasil está no rumo certo, mas que ainda tem um longo caminho para atingir o seu potencial.

O que falta, então, para que essa realidade se torne cada vez mais presente? Para Julio, o tempo é a resposta. Ele defende que visitantes e gestores já reconhecem a importância das áreas protegidas como ferramenta de conscientização ambiental e conexão com a natureza. 

“Para mim, a palavra-chave para atingir esse potencial é cultura. Esta cultura se constrói com tempo, não é da noite para o dia. Constantemente vejo comparações entre a cultura de vida ao ar livre nos Estados Unidos e no Brasil. Mas vamos falar de tempo: o sistema do National Park Service dos Estados Unidos é de 1916, enquanto o ICMBio foi fundado em 2007, quase 100 anos de diferença”, complementa. 

Esta questão cultural citada por Julio está intrinsecamente conectada à sensação de pertencimento – e é um ponto comumente citado por gestoras e gestores. Maria Lúcia Castro, gestora do Parque Estadual do Itacolomi (MG), reforça que “as pessoas da comunidade precisam saber que o parque é delas”. E como lidar com esse desafio?  

“Esta é a reflexão atual. Existe a questão de cidadania, de direitos e deveres e, inclusive, de direito constitucional, que delega a todos um ambiente equilibrado e também as áreas conservadas. Mas, mais uma vez, é questão de construção temporal”, comentou o bolsista do Instituto Semeia durante a conversa sobre o Dia do Turismo Ecológico. 

Se a questão é temporal, o Semeia defende que não podemos perder mais tempo. Agora é a hora dos brasileiros e das brasileiras descobrirem e se sentirem parte do ambiente natural do nosso Brasil.  Esse é um caminho essencial para atingirmos a nossa missão de despertar o orgulho das pessoas por nossos parques, além de reconhecerem a sua importância no contexto de urgência climática.

Outra forma de ampliar a sensação de pertencimento e debater turismo e conservação em parques naturais é a disseminação de conhecimento. Esta é a motivação da 9ª edição do evento Parques do Brasil, que acontece no próximo dia 17 de março – e que terá transmissão ao vivo pelo YouTube. A participação é gratuita, basta preencher o formulário de inscrição

Outras formas de ampliar a relação conservação-visitação

Para o bolsista do Semeia, essa sensação de pertencimento e de avanço na relação conservação-visitação passa muito pela sociedade. E utiliza mais uma vez o exemplo dos Estados Unidos e a cultura centenária daquele país em relação ao acesso às áreas protegidas.  

“As pessoas de lá têm os parques nacionais introjetados de uma maneira muito forte, com programas e incentivos reais para as pessoas visitarem os parques desde a escola. Isso é retroalimentado e só se constrói com o tempo”, relembra. 

No Brasil, ele acredita que esse pertencimento das pessoas às unidades de conservação pode ter um papel crucial na evolução da visitação atrelada à consciência ambiental. “De maneira geral, existem diversas associações defendendo o meio ambiente. Mas fazendo esse vínculo da natureza com a visitação, de usuários defendendo áreas protegidas, ainda é muito raro da gente ver”, aponta. 

“Os ciclistas e os grupos de trilhas, por exemplo, são extremamente importantes nesse processo. Mas essa construção da cultura é uma via de mão dupla: é possível as pessoas defenderem a visitação sustentável nas unidades de conservação, mas o poder público precisa criar as oportunidades para que ela seja efetivada”, complementa.

Neste Dia do Turismo Ecológico, esperamos que essa reflexão tenha sido válida para que o Brasil avance nesta questão – encontrando soluções e iniciativas que transformem todo esse belíssimo patrimônio ambiental em benefícios reais e verdadeiros para a sociedade como um todo.   

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