Década da Restauração ambiental: o que isso significa e por que o tema é tão urgente
20/03/2023
Parque Nacional da Tijuca (RJ) | iStock
Vamos cuidar do que temos, porque senão podemos comprometer o nosso futuro. A frase pode parecer alarmista, mas a linha é mais ou menos essa. Afinal, não foi acaso que a ONU (Organização das Nações Unidas) estabeleceu a Década da Restauração (2021-2030).
Instituída como um apelo pela proteção e revitalização de ecossistemas de todo o mundo, ela foi um sinal do órgão bastante claro: precisamos frear a degradação causada em grande parte pelas ações humanas e direcionar esforços à restauração ambiental. Em dezembro de 2022, inclusive, uma decisão na COP 15 (Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade) reforçou o tema: foi assinado um documento com 23 metas para reverter a perda de biodiversidade no mundo, incluindo conter a extinção de espécies e conservar locais de grande relevância ambiental e social.
É primordial olhar para as decisões firmadas na COP 15 e pensar em parques e Unidades de Conservação do Brasil e no quanto eles têm papel fundamental para a proteção da biodiversidade.
O que é restauração ambiental
Antes de entrarmos nos temas da Década de Restauração e nas decisões da COP 15 sobre biodiversidade, achamos importante explicar o significado do conceito. Até para quem já tem familiaridade com o tema, pode ser que a explicação seja bastante útil.
No contexto ambiental, as palavras preservação e conservação são mais amplamente difundidas do que a palavra restauração. De acordo com Mariana Haddad, coordenadora de conhecimento do Semeia, “nas últimas décadas o foco maior esteve sempre em preservar e conservar o que já existe; para o que já foi perdido, começamos a dar importância recentemente”.
Mas o que significa, afinal, a restauração ambiental? Restaurar ecossistemas tem o pressuposto de que o ambiente retorne, o mais próximo possível, ao seu natural, ou seja, parecido com o que era antes das intervenções humanas. E nunca é demais lembrar: a degradação ambiental ameaça não só a fauna e flora, mas também o bem-estar das pessoas e a disponibilidade de recursos naturais essenciais à vida, como por exemplo, água potável. A escolha da ONU pela Década da Restauração tem razão de ser. De acordo com documento do Pnuma (Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente), “com a restauração efetiva de 15% das terras, cerca de 60% das extinções de espécies poderiam ser evitadas”. Além do efeito positivo também para contribuir com a diminuição do aquecimento global.
É importante lembrar: se o foco continuar “apenas” na preservação e conservação, tudo o que já foi perdido vai continuar perdido.
“Se não cuidarmos com urgência do que está sendo perdido, a situação pode chegar a um ponto de inflexão. Algo precisa ser feito, porque senão vamos para um caminho sem volta”, aponta Mariana.
Mas existe uma possibilidade de reverter este quadro: a restauração ambiental. Ela pode trazer o que se chama, no ambiente corporativo, de ciclo virtuoso – ambiental, social e, inclusive, econômico.
Os compromissos do Brasil com a Década da Restauração
Como dissemos no começo deste texto, a COP 15 trouxe um compromisso de conservar a biodiversidade. Das 23 metas estabelecidas na Convenção, duas delas merecem destaque pela conexão total com a realidade de parques e Unidades de Conservação do Brasil:
– assegurar que, até 2030, pelo menos 30% das áreas degradadas de ecossistemas terrestres, de águas interiores e costeiras e marinhas estejam sob restauração efetiva, a fim de aumentar a biodiversidade e as funções e serviços ecossistêmicos, a integridade ecológica e a conectividade (Meta 2);
– assegurar e possibilitar que, até 2030, pelo menos 30% das áreas terrestres, de águas interiores e costeiras e marinhas, especialmente áreas de particular importância para a biodiversidade e as funções e serviços dos ecossistemas, sejam efetivamente conservadas e geridas por meio de ecologicamente representativos. Esta meta trouxe o reconhecimento dos territórios tradicionais e indígenas, assim como o reconhecimento do respeito às pessoas que ocupam esses territórios (Meta 3).
Dentro deste contexto, o Brasil já havia se comprometido a restaurar pelo menos 12 milhões de hectares de florestas até 2030 – o que é uma área similar à do estado do Paraná, por exemplo.
Logo, fica bastante claro: existe um potencial imenso da restauração ambiental virar o jogo da degradação. E algumas iniciativas de sucesso já existem neste sentido. Destaque para o Pacto Trinacional da Mata Atlântica, que foi uma das 10 iniciativas globais premiadas na COP 15.
O projeto envolve Brasil, Paraguai e Argentina e já restaurou aproximadamente 700 mil hectares de florestas na Mata Atlântica. Além de contribuir para a preservação de diversas espécies de animais ameaçados de extinção, como o mico-leão dourado, ele também garante o abastecimento de água na natureza e em cidades, e cria milhares de empregos. Lembra do ciclo virtuoso? Pois então: benefícios ambientais, sociais e, por consequência, também econômicos.
Para saber mais sobre o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, clique aqui.
O que você pode fazer pela restauração ambiental
Os parques naturais e as Unidades de Conservação têm uma parcela importantíssima no auxílio à Década da Restauração instituída pela ONU. Como este texto explica bem, as áreas protegidas são aliadas fundamentais na restauração ambiental que o país pretende. Mas apenas organizações públicas, privadas e de terceiro setor podem se envolver neste processo?
Na verdade, pessoas físicas também podem ter papeis relevantes na agenda restauradora de ecossistemas. O ponto principal: se apropriar de leis e projetos que tenham a ver com o tema, especialmente dentro da sua cidade.
“Existem diversas iniciativas pontuais que podemos fazer. Se existe algum projeto próximo à sua casa que visa reduzir parques, praças ou algo assim, envolva-se contra. Participe de ações de plantio de mudas nativas, recomposições ambientais. Participe dessas atividades”, aconselha Mariana.
O planeta Terra tem perdido espécies em um ritmo nunca antes visto – mais rápido e acelerado do que na época dos dinossauros. O grau de degradação é avançado mas, como vimos neste texto, existem muitas iniciativas para que esse jogo vire.
Reverter a perda de biodiversidade é urgente não só para espécies endêmicas dos diversos biomas, mas também para a raça humana. A oportunidade está dada: vamos agarrá-la agora.