Conheça Zélia Brito e sua dedicação ao Atol das Rocas

Há três décadas, chefe da reserva biológica faz do local o seu lar e propósito de vida

17/06/2022

Não existiria o Atol das Rocas que conhecemos sem Zélia Brito, defensora deste pedaço de paraíso localizado no Rio Grande do Norte. Foto: Arquivo pessoal.

Não pare até se orgulhar. Se você desistir, não saberá o resultado das suas lutas e dos objetivos que almeja alcançar”. Esta é a frase favorita e que resume bem toda a dedicação e trajetória de vida de Maurizélia de Brito Silva, também conhecida por Zélia Brito.

Filha e neta de funcionários do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Zélia é, desde 1995, chefe da Reserva Biológica Atol das Rocas. Mas sua conexão com esse paraíso em alto mar começou bem antes, ainda criança, quando ouvia histórias de seus familiares sobre o local.

A “lagoa azul”

Único atol (ilha circular de corais e algas coralinas formada no topo de uma cadeia de montanhas submarinas) do Atlântico Sul e primeira Reserva Biológica Marinha do Brasil, o Atol das Rocas é um verdadeiro espetáculo da natureza. Suas formações terrestres são locais de abrigo, alimentação, reprodução e dispersão para muitas espécies, inclusive animais em rotas migratórias. Pelo fato de encontrar-se em águas oceânicas, distante do continente, ele não está inserido em nenhum município. No entanto, pertence ao Estado do Rio Grande do Norte.

Localização do Atol das Rocas.
Crédito: Plano de Manejo do Atol das Rocas

Apesar de ter sido instituído em 1979, sua implantação só ocorreu em 1991, por meio de iniciativa do oceanógrafo Gilberto Sales. Naquela época, Zélia ouviu falar da implementação e se ofereceu para fazer parte da equipe, tornando-se a chefe substituta. 

“Foram 43 horas de viagem, parecia que o veleiro não chegaria nunca. O que me marcou foi perceber as aves voando todas para a o atol. E quando cheguei, foi ver a cor daquela água e lembrar do filme ‘A Lagoa Azul’, que eu já havia assistido várias vezes. Eu, simplesmente, não acreditava que existia uma água tão clara assim. Quando desembarquei, aquela quantidade de aves com seus ovos e filhotes nos ninhos me fez chorar de emoção. Estava, enfim, pisando pela primeira vez no Atol das Rocas e, naquele momento, o meu coração já sabia que seria difícil me despedir”.

Com a saída de Gilberto, em 1995, Zélia assumiu a reserva e, até hoje, é quem ajuda a garantir a proteção e fiscalização da área. “Tudo o que eu sempre quis na minha vida era fazer parte da natureza e encontrei no Atol das Rocas a perspectiva deste sonho se tornar realidade”, revela Zélia. “Eu não trabalho ‘com’ a fauna e a flora, eu trabalho ‘para’ elas. O meu propósito é manter o atol protegido e assim poder ter a chance de salvaguardar espécies marinhas e insulares”.

Atol das Rocas é o topo de uma montanha submarina de origem vulcânica e serve como berçário para centenas de espécies de animais. Foto: Alice Grossman/All Angle

Xerife do mar 

Zélia é dona de uma personalidade forte e postura inabalável, o que lhe rendeu o apelido de “xerife do mar”. Afinal, ninguém chega perto do atol sem que ela fique sabendo.

Desde quando assumiu a fiscalização da reserva, monitora a frequência de rádio e a aproximação de embarcações. Todos são alertados que não podem navegar naquelas águas protegidas. Os que descumprem a ordem avistam a “xerife” se aproximar com seu bote inflável, pronta para conduzí-los para longe do atol. A rotina de vigilância tem sido essencial para manter a conservação da área. “Sempre procurei dialogar, mostrar que eu não sou uma inimiga, mas uma aliada”, explica Zélia. “Eu protejo um santuário. Apesar de já minimizarmos os impactos da pesca ilegal, o estado de alerta é contínuo. Se vacilar, a ilegalidade pode retornar”, completa.

Zélia é natural de Natal e cresceu brincando nas praias, principalmente a de Pipa, ao lado dos pescadores, o que a tornou conhecida e respeitada pelos navegantes. Foto: Arquivo pessoal

Proteção integral

O turismo não é permitido no Atol das Rocas e apenas cinco pessoas podem ocupar o local ao mesmo tempo. Geralmente, os grupos são formados por servidores do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), prestadores de serviço da reserva biológica e pesquisadores licenciados para a execução de projetos científicos. A visita acontece em forma de rodízio e cada expedição tem, no mínimo, 25 dias de duração. 

Apesar de já ter tempo o suficiente para se aposentar, Zélia não pensa em deixar o trabalho tão cedo. “Eu me sentiria abandonada e abandonando o local que contribuiu tanto com a minha carreira profissional e me tornou uma pessoa melhor, mais determinada e justa”, comenta. Mesmo assim, a xerife não deixa de compartilhar toda experiência e conhecimento que adquiriu ao longo dos anos. “Cuidar da natureza é uma ação coletiva, porque necessitamos de ambientes saudáveis para a nossa própria sobrevivência. Não existe um ‘plano b’. Precisamos repensar as nossas atitudes, em como estamos vivendo e no mundo que queremos deixar para as futuras gerações”, conclui Zélia.

No mar ao redor e dentro do atol, animais ameaçados de extinção encontram proteção.
Foto: Arquivo/ICMBio

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