Parques nacionais são ótimas opções para a prática de montanhismo

Esporte de aventura por excelência, o montanhismo pode incentivar a conservação da biodiversidade, ao mesmo tempo em que melhora a autoestima e a saúde dos praticantes. Saiba mais!

29/06/2022

Sensação de liberdade e de realização são algumas das características do montanhismo. Foto: Parque Nacional do Itatiaia (RJ) / Nando Bonfim - CC BY SA 4.0.

Poucos esportes mantêm uma conexão tão grande com as unidades de conservação quanto o  montanhismo, porém, ainda são muitas as pessoas que acreditam no mito de que a prática é restrita a atletas de alto nível, com preparo físico quase inalcançável, quando, na verdade, ela pode ser mais democrática do que muitos dos esportes populares. 

Sim, as Cordilheiras dos Alpes, do Himalaia e dos Andes, ainda são o sonho de todo montanhista, mas, bem antes de chegar lá, que tal conhecer os desafios e vantagens das montanhas brasileiras? Embora (ainda) não estejam eternizadas em livros ou filmes – como As Neves do Kilimanjaro, de Ernest Hemingway -, as montanhas dos parques nacionais oferecem aventura e beleza suficientes para uma boa história!

Sem medo de desafios, a professora Marceli Cristina, de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, é frequentadora assídua das montanhas localizadas nos parques nacionais e considera o esporte essencial para o equilíbrio em sua vida. “O montanhismo me ensinou a encarar os meus medos, a traçar objetivos e a criar o melhor planejamento para conquistar o que quero”, diz ela.

Para a professora Marceli Cristina, o montanhismo equilibra todas as áreas de sua vida.
Foto: Arquivo pessoal.

Com várias montanhas já conquistadas, Marceli lembra que um dos maiores desafios foi a Montanha Maria Comprida, em Petrópolis, região do Rio de Janeiro que é delimitada pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Com 1.926m de altitude e paredões verticais que ultrapassam 1.000m de altura, foi a que mais a desafiou.

O corpo dolorido no final da excursão, no entanto, foi recompensado pelas memórias que a professora carrega com carinho até hoje. “O visual é algo de tirar o fôlego, difícil de descrever e que vou levar comigo para sempre. E a sensação da vitória é indescritível”, relembra. 

Marceli compara o montanhismo com os desafios impostos pela vida. “Chegar ao cume, ao topo, e olhar lá pra baixo nos mostra que tudo é possível, bastando começar, dar o primeiro passo. Essa é a lição que o montanhismo me ensina”, diz a professora.

O sentimento de vitória e de superação, mencionado por praticantes de montanhismo como Marceli, é apenas uma das características que conquista quem pratica o esporte que, apesar de gerar tantas paixões entre seus praticantes, ainda requer cuidados, especialmente os que envolvem o respeito à biodiversidade local.

Montanhas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro
Foto: Karla Paiva

ESPORTE DIVERSO

Segundo a Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ), o montanhismo pode ser esportivo ou de lazer, se caracterizando pela subida de montanhas e elevações rochosas, por meio de caminhadas ou escaladas, com diferentes graus de dificuldade e tempo de duração. A palavra “montanhismo” abrange as seguintes atividades e suas práticas derivadas são:

• Caminhadas em montanha (de curta e longa distância, podendo incluir pernoites)
• Escalada em rocha (esportiva, tradicional e bouldering)
• Escalada em gelo e neve
• Alta montanha
• Escalada em muros artificiais

A prática requer cuidados, como preparação física, equipamentos adequados e orientação profissional. Por isso, os cursos básicos de montanhismo e escalada são de longa duração, entre dois e três meses, e são oferecidos de acordo com o calendário de cada entidade, com turmas entre 8 e 20 pessoas.

MONTANHISMO AINDA É ALIADO DA CONSERVAÇÃO DOS PARQUES

No Brasil o montanhismo era restrito a poucas pessoas com perfil aventureiro até algumas décadas atrás. Mas, com a popularização de grupos de excursão e de seu incentivo como prática recreativa  inclusive por entidades públicas, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o número de praticantes aumentou, ao ponto de a atividade ganhar a atenção de especialistas preocupados com o impacto causado à biodiversidade. 

Segundo Kika Bradford, presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), que participou do SemeiaLive sobre o assunto, o montanhismo requer consciência e respeito ao meio ambiente.

“Há uma necessidade de se entender a visitação como um valor fundamental e essencial para as nossas sociedades. A visitação em áreas naturais tem esse potencial de ajudar na conservação e, quanto mais abraçamos essa ideia, mais a gente vai valorizar a prática do montanhismo, que pode cada vez mais ampliar a biodiversidade”, explicou.

O montanhista Pietro Scarascia, gestor do Parque Estadual Carlos Botelho (SP), segue na mesma linha de pensamento e explica que, quando se fala em montanhismo em áreas naturais protegidas, é preciso, em primeiro lugar, pensar nos ecossistemas e na integridade deles:

“Precisamos pensar sempre em soluções que mostrem de que forma é possível praticar o montanhismo com um número de visitação que gere uma renda para a UC e para a comunidade do entorno, mas que impacte o meio ambiente o mínimo possível”, alerta Pietro Scarascia.

Final da trilha para a ‘Janela do Céu’ no Parque Estadual do Ibitipoca (MG)
Foto: Leandro Castro de Souza

André Ilha, diretor do Grupo Ação Ecológica que também participou do SemeiaLive sobre montanhismo e uso nos espaços públicos, explica que uma outra estratégia importante a ser adotada é a de entender que os visitantes de parques têm diferentes motivações para se dirigir a esses lugares. 

“A gente precisa diferenciar os diferentes tipos de visitantes e os diferentes segmentos de visitação para, dessa forma, desenvolver estratégias eficientes para cada um desses perfis, de forma que se tenha uma política de uso público efetivamente bem-sucedida”, diz André Ilha, diretor do Grupo Ação Ecológica.

De olho nessa necessidade, em 2002 foi lançado o Programa Adote Uma Montanha, com a primeira ação sendo o Dia da Montanha Limpa, coordenado pela CBME. O evento promove o incentivo à limpeza, coleta de lixo e manutenção de montanhas e pontos de escalada. A ação ocorre anualmente, atraindo mais voluntários a cada ano e ampliando-se para fora do Estado de São Paulo, incluindo Minas Gerais e Paraná.

Quer saber onde praticar? Veja alguns parques que incentivam a prática de montanhismo: 

• Parque Nacional do Caparaó – Pico da Bandeira
• Parque Nacional de Itatiaia – Pico das Agulhas Negras
• Parque Nacional do Monte Roraima – Monte Roraima
• Parque Nacional da Serra dos Órgãos – Pedra do Açu
• Parque Nacional da Serra da Bocaina – Pico do Tira Chapéu

Fonte: ICMBio

Parque Nacional de Itatiaia (RJ) é uma ótima opção para a prática do montanhismo
Foto: Erick Mikami

VOCÊ SABIA?

O montanhismo tornou-se patrimônio cultural imaterial do Estado do Rio de Janeiro. O estado foi onde a prática começou a ganhar status de esporte organizado no Brasil, no ano de 1912, quando moradores de Teresópolis conseguiram escalar o pico do Dedo de Deus, no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. E apenas sete anos depois, em 1919, foi criado o CEB (Centro Excursionista Brasileiro), o primeiro clube de montanhismo do Brasil. Mas, nacionalmente, o montanhismo começou bem antes: em 1879, com a escalada do Marumbi (PR) pela equipe liderada pelo farmacêutico Joaquim Olimpio Carmeliano de Miranda.

Assine nossa newsletter e fique por dentro das novidades!

Rua Amauri, 255, 9º andar
Jardim Europa, São Paulo – SP
CEP: 01448-000
+55 11 5180.0260
© Instituto Semeia – Todos os direitos reservados – Site por NaçãoDesign, com referências ao projeto de Tati Valiengo e Tiago Solha Design Gráfico