Conheça Julio Itacaramby e seu trabalho na Chapada dos Veadeiros

Em 2010, o gestor ambiental trocou a cidade pelo campo e tem se dedicado à conservação do parque nacional e à implantação de projetos na região, como o “Caminho dos Veadeiros”.

11/11/2021

Frequentador há mais de 20 anos e morador da região, Julio Itacaramby acredita que a população precisa ter mais orgulho dos seus patrimônios naturais. Foto: Arquivo pessoal.

Quando visitou o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros pela primeira vez, aos 18 anos de idade, o brasiliense Julio Cesar S. Itacaramby, 37, ficou maravilhado. Disse a si mesmo, “um dia eu quero morar aqui”.

Apesar de conhecer 40 países e dezenas de parques no Brasil e pelo mundo nos anos seguintes, a lembrança daquele parque nacional, localizado no Estado de Goiás, continuava vívida.

Um antigo garimpeiro da região, Seu Dedé, também marcou aquela visita. O guia de turismo lhe contou as histórias do lugar e revelou as belezas do parque, que já foi um local de intensa exploração mineral, mas que agora é um exemplo em turismo de natureza.

“A Chapada dos Veadeiros é diferenciada pelo conjunto da obra”, comenta Julio Itacaramby, que é graduado em Direito, em Gestão Ambiental e mestrando em Desenvolvimento Sustentável. “Considero o clima daqui perfeito, não é muito frio e não é muito quente, mesmo com as épocas de chuva e de seca bem definidas. O ar é puro e tem muita água, praticamente em qualquer cantinho você vai encontrar um córrego. E o cerrado é uma savana que encanta, mesmo em condições adversas consegue florir ipês amarelos lindos. Tudo isso me fascina e torna esse lugar muito especial”.

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros possui 240 mil hectares de área total e é hotspot de dezenas de espécies da fauna e flora. Abriga mais de 1.200 nascentes de água e abrange os municípios de Alto Paraíso, Cavalcante, Nova Roma, Teresina de Goiás e São João da Aliança, no nordeste goiano.

Além de frequentar e morar na região do parque, Julio foi condutor local de visitantes na Chapada dos Veadeiros, pratica montanhismo, canionismo e faz trilhas de longo curso, atividades que permitem dias de contato com a natureza e contemplação. “A sensação de estar em lugares que poucas pessoas conhecem e poder olhar a natureza ao redor é indescritível”, explica. “Toda essa imersão é encantadora, aprendo bastante com a natureza e seus fenômenos. Essa vivência me tornou a pessoa que eu sou hoje, sem dúvida”.

FAZENDO A DIFERENÇA EM TODOS OS AMBIENTES

Além de proteger plantas e animais ameaçados de extinção, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros também é conhecido por suas cachoeiras, piscinas naturais e quedas livres. Foto: Leonardo Milano / ICMBio.

Quando se estabeleceu em Alto Paraíso, em 2010, Julio Itacaramby se envolveu em atividades e políticas públicas ambientais. Seu trabalho chamou atenção e rendeu um convite para atuar na prefeitura como gerente e depois, secretário municipal, cargo que exerceu de 2014 a 2016.

“Confesso que eu fiquei um pouco ressabiado, pois nunca havia atuado no meio político. Cogitei uma candidatura para vereador, porém, ao me deparar com os meandros da política partidária brasileira, desisti e preferi me manter como um técnico, não como um político”, lembra Itacaramby.

Apesar do pouco tempo como gestor público, conseguiu grandes feitos, como a criação de uma secretaria autônoma de meio ambiente, um Acordo de Cooperação para a implementação do programa “Cultivando Água Boa”, premiado internacionalmente, e a aprovação do plano de manejo da APA de Pouso Alto, o que não havia sido feito em 15 anos.

Toda essa dedicação lhe rendeu o título de Cidadão Honorário de Alto Paraíso, em 2016.

Após sua passagem pela política, Julio Itacaramby fundou a Associação Amigos do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (AVE), em 2018, onde atua como diretor geral, e se tornou ponto focal no Instituto Internacional para Sustentabilidade (ISS), em 2019, onde participa do projeto GEF Áreas Privadas. No mesmo ano, ele ainda participou do programa de bolsas do Semeia em parceria com a Colorado State University (CSU) para formação em Gestão de Turismo em Áreas Protegidas.

Sobre a AVE, Julio diz que era um sonho antigo de frequentadores e técnicos da região. “Tive a oportunidade de visitar vários parques pelo mundo e notei que todos possuíam associações. Isto é pouco difundido aqui no Brasil, mas outras pessoas também tiveram essa mesma percepção e, então, juntamos forças para fazer acontecer”, conta.

Já no instituto, o consultor lidera uma das equipes de implementação do projeto , uma trilha de longo curso que conecta o Distrito Federal à Chapada dos Veadeiros com cerca de 500 quilômetros de extensão. “Não será apenas uma trilha”, explica Julio. “É necessário fazer todo um mapeamento de área, coleta de registros históricos, trilhas históricas, sinalização, mas, principalmente, fazer a conexão com as seis principais unidades de conservação presentes ao longo do percurso, que poderá ser feito de bicicleta ou a pé”.

VALORIZAR E CUIDAR PARA AS PRÓXIMAS GERAÇÕES

Julio é pai e procura transmitir ao filho toda sua luta e paixão pela natureza. (Foto: Arquivo pessoal)

Apesar de todo seu trabalho e todas as conquistas, o verdadeiro desafio, de acordo com Julio, ainda é sensibilizar a população em relação à importância da conservação dos parques brasileiros. Na sua avaliação, esse desmerecimento acontece por um motivo.

“Somos um país com mais de 200 milhões de habitantes e 74 parques nacionais. Desses espaços, 56 tiveram registro de visitação, segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mas a maior parte deles não atinge mil visitantes por ano. Isso acontece porque as pessoas, em sua maioria, não têm a oportunidade de conhecer os parques e passar a valorizá-los, assim como os governantes pouco elaboram políticas públicas que garantam esse direito. Ou seja, um problema de ‘mão dupla’ que precisa urgentemente ser solucionado”, conclui Julio.

Em sociedade, o gestor ambiental diz se inspirar na frase “seja a diferença que você quer para o mundo”, do líder e pacifista indiano Mahatma Gandhi, como modelo a ser seguido.

“Busco fazer a diferença começando pela minha casa, que foi construída sob o princípio da bioconstrução, isto é, com materiais naturais. No meu dia a dia, procuro ser um cidadão consciente dos meus direitos e deveres, o que me faz reivindicar, por exemplo, o meu direito a um meio ambiente conservado”, ressalta Julio.

Também influenciam sua conduta, segundo o ambientalista, as biografias de Nelson Mandela, líder do movimento contra o Apartheid na África e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, e de John Muir, naturalista e idealizador do conceito de proteção de parques e áreas selvagens.

Por fim, Julio espera que a humanidade seja capaz de recuperar o meio ambiente já degradado para que as futuras gerações prosperem. Esse desejo se fortaleceu quando se tornou pai. “Mudou muito minha perspectiva”, afirma. “Uma coisa é pensar no futuro sob a ótica da sustentabilidade, outra coisa é olhar para um ser e pensar no futuro dele. Por isso eu quero dar ao meu filho as mesmas oportunidades que tive de contemplar a natureza. É o mínimo”.

Assine nossa newsletter e fique por dentro das novidades!

Rua Amauri, 255, 9º andar
Jardim Europa, São Paulo – SP
CEP: 01448-000
+55 11 5180.0260
© Instituto Semeia – Todos os direitos reservados – Site por NaçãoDesign, com referências ao projeto de Tati Valiengo e Tiago Solha Design Gráfico