Conheça quatro Parques Nacionais com opções de turismo acessível para pessoas com deficiência

Unidades de conservação oferecem desde trilhas suspensas até cadeiras adaptadas para a prática de montanhismo

20/07/2022

Ricardo Gonzalez durante trilha realizada com cadeira Julietti no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO). Foto: Acervo Pessoal/Ricardo Gonzalez

Respirar o ar puro da natureza ou ter contato mais próximo com animais e plantas são ações associadas à melhora da saúde física e mental das pessoas. Para que todos tenham a oportunidade de viver essas experiências, é preciso eliminar barreiras de acesso às áreas verdes. Um levantamento de 2018 investigou as condições de inclusão e acessibilidade em 140 unidades de conservação brasileiras, analisando os desafios e oportunidades. Apenas 33% das UCs que responderam à pesquisa afirmaram contemplar a acessibilidade em seus planos de manejo, e somente 36% já haviam implementado alguma medida. 

Dentre os parques brasileiros que têm olhado para essa questão, destacamos quatro iniciativas no guia “A natureza ao alcance de todos”, desenvolvido para apoiar gestores públicos na promoção de acessibilidade nas unidades de conservação. Resultado da colaboração entre Instituto Semeia, Instituto Novo Ser e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o conteúdo teve como base uma pesquisa acadêmica desenvolvida por Ricardo Gonzalez Rocha Souza e Katia Torres Ribeiro, além da experiência de outros atores com as temáticas ‘áreas protegidas’ e ‘acessibilidade’. 

Confira abaixo quatro parques com infraestrutura adaptada para pessoas com deficiência no Brasil.

Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO)

Ricardo Gonzalez visitou o parque e utilizou a cadeira Julietti para acessar as trilhas
Foto: Acervo Pessoal/Ricardo Gonzalez

Patrimônio da Humanidade pela Unesco, a unidade de conservação localizada nos municípios de Alto Paraíso de Goiás e Cavalcante possui uma trilha suspensa de 230 metros com corrimão, que pode ser percorrida com cadeira de rodas. O trajeto termina na beira do Rio Preto e nas Corredeiras, uma das principais atrações do parque. “Por meio dessa trilha, pude dar um mergulho em um rio depois de 20 anos”, afirma o biólogo e montanhista Ricardo Gonzalez. Para chegar até ao início da passarela, o uso de veículos com tração 4×4 é permitido às pessoas com deficiência. 

Outra opção do parque é a Julietti, cadeira de rodas adaptada desenvolvida para a prática de montanhismo e que permite o acesso a diversas trilhas. Guias treinados podem ser contratados para conduzir o visitante. “Recomendo para todo mundo fazer essa viagem pelo menos uma vez na vida. O cenário é o melhor possível; o nosso tão querido cerrado com suas belezas únicas! ”, diz Gonzalez.  

Encontre aqui mais informações sobre outros parques e trilhas por todo o Brasil que contam com uma cadeira Julietti 

Parque Nacional da Serra dos Órgãos (RJ)

Unidade de Conservação possui trilha suspensa em meio à floresta
Foto: giancornachini/CC BY 2.0

Distribuídos entre os municípios de Teresópolis, Petrópolis e Guapimirim, o Parque Nacional da Serra dos Órgãos abriga montanhas, cachoeiras e espécies endêmicas da Mata Atlântica. Graças a iniciativas desenvolvidas ao longo dos anos, a unidade de conservação tornou-se acessível a um maior número de pessoas.

Merece destaque a trilha suspensa em meio à floresta, que proporciona ao visitante uma experiência ímpar de imersão na floresta. A passarela, de madeira e com corrimão, tem 1.300 metros de extensão. O passeio permite contato com espécies da flora e da fauna, além de uma visão mais ampla da área, o que é especialmente interessante para pessoas com deficiência física, que geralmente têm seu deslocamento limitado em regiões de mata. O parque também dispõe de uma cadeira Julietti.

Parque Nacional do Itatiaia (RJ/MG)

Bosque sensorial possibilita acesso com autonomia
Foto: Henrique Boney/CC BY-SA 3.0

Primeiro parque nacional brasileiro, criado em 1937, o Parque Nacional do Itatiaia está localizado nos municípios de Itatiaia e Resende (Rio de Janeiro) e Bocaina de Minas e Itamonte (Minas Gerais). Desde 2017, conta com um bosque sensorial, com duas pequenas trilhas. Uma delas pode ser percorrida de pés descalços, olhos fechados ou vendados, ao passo que a outra oferece acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida, inclusive idosos. 

Ambos os percursos permitem ao visitante, de maneira independente e segura, explorar o sistema sensorial humano por meio da percepção de cores, formas, texturas, odores e sons. O centro de visitante conta com elementos comunicacionais acessíveis e opção de visita guiada.

Parque Nacional da Tijuca (RJ)

Trilha acessível conta com um cabo guia para apoiar deficientes visuais
Foto: Gresasc/CC BY-SA 4.0

Inserido em uma grande metrópole (Rio de Janeiro) e com alto volume de visitantes, o Parque Nacional da Tijuca possui uma trilha adaptada para permitir que pessoas com deficiência possam vivenciar a floresta tropical. Conhecida como “Caminho Dom Pedro Augusto”, ela liga duas construções históricas, o “Barracão” e o restaurante “Os Esquilos”. 

Com árvores centenárias, uma pequena cascata e uma ponte histórica desenhada no século XIX pelo paisagista Auguste Glaziou, a trilha permite contato direto com a floresta, suas formas, texturas e sons. O caminho conta com um cabo guia para deficientes visuais, que passa bem próximo de elementos naturais, proporcionando experiências táteis e olfativas com troncos e folhas, por exemplo. 

A inclusão nos parques nacionais brasileiros

De acordo com o IBGE, cerca de 7% da população brasileira tem alguma deficiência. Há ainda um grande contingente de pessoas com mobilidade reduzida no país, de forma temporária ou permanente, como gestantes e idosos, que correspondem a 10% da população, segundo a Fundação Getúlio Vargas. Apesar da lei brasileira de inclusão ser bastante ampla, a sua implementação ainda enfrenta desafios por todo o país, principalmente em relação ao acesso aos parques.

Em princípio, pode parecer impraticável transpor um cenário intrincado de gestão, que envolve desafios como falta de recursos, questões de segurança e até mesmo a dificuldade de viabilizar empreendimentos acessíveis em áreas selvagens. Entretanto, há iniciativas criativas, inspiradoras e bem-sucedidas que apontam um horizonte promissor. 

Uma sociedade só será inclusiva, de fato, quando contemplar todas as pessoas em todos os espaços, e isso deve valer também para os parques nacionais e unidades de conservação brasileiros. Por isso, é fundamental disseminar boas práticas de inclusão e criar uma nova perspectiva sobre a acessibilidade para os visitantes em áreas protegidas.

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