Conheça o Parque Estadual do Tainhas
Um raro caso de área natural de Mata Atlântica no estado mais ao Sul do Brasil.
16/12/2024
Cássio Hoffmann
Formado essencialmente pelos Campos de Cima da Serra, que, apesar de num primeiro olhar lembrarem os famosos Campos dos Pampas, também no Rio Grande do Sul, o Parque Estadual do Tainhas é parte de outro bioma, a Mata Atlântica. Sua paisagem encanta os visitantes, que são teletransportados para um cenário único, que nos deixa com vontade de sair cavalgando pelos campos, lembrando as clássicas cenas da Casa das Sete Mulheres.
Uma reserva natural campestre, assim pode-se definir essa unidade de conservação. E é importante deixar claro: a vasta amplitude que se tem no Parque é fruto da formação natural, e não resultado da ação humana. A beleza ali, portanto, funciona dessa forma: simplesmente é.
Localizada no Nordeste do estado mais ao Sul do Brasil, o Tainhas, como é carinhosamente chamado, está em uma região famosa por visuais de um ambiente único. No entorno, estão o que se pode chamar dos “dois irmãos mais famosos”, os parques nacionais da Serra Geral e de Aparados da Serra.
A proximidade, entretanto, não faz com que as vivências sejam exatamente parecidas. No Parque Estadual do Tainhas, as paisagens de campos sulinos estão combinadas com fauna e flora abundantes, além de cachoeiras que valem a visita.
“Muita gente que vai conhecer os parques nacionais acaba conhecendo o Tainhas e se encantando. Porque são experiências complementares, que podem ser vividas em uma única viagem”, explica Ketulyn Füster, gestora do parque estadual.
Vocação para trilhas
Se você conversar com alguém que conheça o Tainhas, ou mesmo que trabalhe por ali, o tom vai ser basicamente mesmo: a unidade tem uma vocação natural para trilhas, sejam elas percorridas a pé, de bicicleta ou até a cavalo. Não por acaso, o Parque Estadual do Tainhas faz parte do Caminho das Araucárias.
Aproveitando o ensejo, se você gosta de trilhas, indicamos nossa série especial As Travessias Mais Legais do Brasil, em parceria com a Rede Brasileira de Trilhas.
Por ser um parque essencialmente campestre, como já dissemos, o ambiente aberto e amplo favorece caminhadas, pedaladas e cavalgadas pelos Campos de Cima da Serra. Dois caminhos específicos reservam visitas aos dois principais atrativos do local: o Passo do S e o Passo da Ilha, que têm esse nome por serem travessias constituídas por lajeados, um trecho em que o rio fica mais raso e pode ser atravessado com relativa facilidade, onde é possível atravessar o rio Tainhas, que dá nome à unidade de conservação.
“Trilhas são ótimas ferramentas para as comunidades, especialmente com as do entorno. O governo acredita muito em que as trilhas sejam formas de conhecimento e divulgação em termos de conservação”, comenta Cátia Gonçalves, diretora de Biodiversidade da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul.
Próxima ao Passo do S está a cachoeira que leva o mesmo nome, que se divide em duas quedas – uma delas com cerca de 20m. O circuito, dentro do Parque Estadual do Tainhas, entre os dois passos é de aproximadamente 23km, e pode ser feito a pé, de bicicleta ou mesmo de carro. Embora a grandeza de seus campos favoreça as caminhadas, sendo um aspecto para visitantes que buscam por uma experiência mais tranquila, turistas off-road, acostumados a trilhas com carros 4×4, são comuns e parcela relevante dos visitantes no Parque.
Mas é sempre bom lembrar: o trânsito de veículos motorizados só pode acontecer nas áreas demarcadas. Além disso, é preciso autorização da gestão do Parque para poder estacionar dentro do rio.
Fauna e flora exuberantes no Parque Estadual do Tainhas
Cachoeiras e trilhas sempre chamam a atenção de quem planeja uma viagem a um parque natural. Mas esta unidade de conservação gaúcha reserva muita coisa além disso.
Ao caminhar pelo Parque, os campos vão revelando uma riqueza da flora que desperta a curiosidade dos olhos e outros sentidos. A quantidade de plantas e flores chama a atenção – inclusive três espécies de cactos-bola, normalmente associados a regiões mais quentes.
“As pessoas, muitas vezes, ficam espantadas com isso, com os pequenos afloramentos rochosos que temos aqui. E esses são específicos dos Campos de Cima da Serra, diferentes de cactos de regiões quentes. Aqui é uma região que chega até a nevar”, lembra Ketulyn.
Outra joia do Parque Estadual do Tainhas é a esponja de água doce (Oncosclera jewelli). Por que ela é especial? Porque ela é endêmica da bacia do rio Tainhas – ou seja, só é encontrada ali. Diferentemente das esponjas de água salgada, ela não é calcária, e funciona como um filtro de impurezas.
“Ela é considerada como um fóssil vivo. Existem primas dela na Ásia e na África, mas como ela não existe igual no mundo. Ela é um gênero anterior à separação dos continentes, e conta toda uma história geológica da região”, diz Ketulyn, lembrando que, em uma visitação guiada, a esponja de água doce é sempre uma das estrelas.
Clique aqui para saber mais sobre elas.
A relação com escolas do entorno
Um projeto muito interessante é o de promover educação ambiental nas escolas da região. A Rede Seiva é uma iniciativa em parceria com outras três unidades de conservação: a APA Rota do Sol, a Estação Ecológica Aratinga e a Reserva Biológica Mata Paludosa.
Por meio de parcerias e com ações voltadas para integração de crianças e adolescentes com o ambiente natural, o Parque Estadual do Tainhas recebe turmas de escolas do entorno – para aproximação das pessoas com a natureza.
Mais do que receber visitas, a gestão do Parque proporciona formações e atividades com professores, que acabam se tornando multiplicadores dentro das instituições de ensino.
“É um projeto que traz muito frutos, que vão além de incentivar as visitas às unidades de conservação. Melhoramos o diálogo não só com jovens, mas também com as famílias das comunidades do entorno”, comemora Ketulyn.
No Tainhas existe, inclusive, uma trilha implantada que sai da sede do parque até a cachoeira do Passo do S. É a Trilha dos Sete Sábios, um roteiro sensorial estimulando sentimentos e sensações das crianças e adolescentes.
ESFERA ADMINISTRATIVA
Estadual
DATA DE CRIAÇÃO:
12 de março de 1975
ESTADO:
Rio Grande do Sul
MUNICÍPIOS:
Cambará do Sul, Jaquirana e São Francisco de Paula
BIOMA:
Mata Atlântica
ÁREA TOTAL:
6.654,66 hectares
INFORMAÇÕES SOBRE A VISITAÇÃO
MAIS INFORMAÇÕES:
O Parque Estadual do Tainhas faz parte de um núcleo turístico do Rio Grande do Sul. Além da proximidade com os parques nacionais, está a pouco mais de 110km da região de Gramado e Canela.
Mesmo com a visitação sendo gratuita e autoguiada, é altamente recomendada a visita com guias e condutores capacitados.
Para chegar ao Parque, o aeroporto de Porto Alegre está a cerca de 3h de carro. Para quem vem pela Rota do Sol, via RS-486, o caminho é muito bom e praticamente todo asfaltado – apenas os últimos 6km são de estrada de terra.
Para agendar visitas educativas, científicas ou mesmo para tirar dúvidas, acesse este link.
Para mais informações, o perfil no Instagram é uma boa fonte de informação.