Segurança no turismo em parques naturais: como Unidades de Conservação podem ser mais seguras para os visitantes?

Norma brasileira serviu de base para a ISO 21101, referência de segurança para o turismo de natureza. Implementar procedimentos para resgate de pessoas acidentadas, incrementar sinalização, entre outras ações para controle de risco é essencial

16/07/2025

A atividade turística é uma das principais ferramentas para que a realidade de territórios e regiões seja incrementada, tanto em termos sociais quanto econômicos – são diversos os estudos que comprovam essa afirmação. A visitação em parques naturais e Unidades de Conservação tem um papel relevante neste processo. O que nos traz  mais uma reflexão: é possível garantir a segurança no turismo de natureza durante as práticas no ambiente natural?

O debate em torno desta questão ganhou força em 2025, com o registro de alguns acidentes com vítimas fatais durante atividades de turismo de aventura, como o da turista brasileira Juliana Marins, que morreu após uma queda durante trilha no vulcão Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia. Um dos casos mais recentes aconteceu em território brasileiro, no Parque Nacional da Serra Geral (RS), culminando na morte de uma menina de apenas 11 anos. 

O Instituto Semeia lamenta profundamente casos como estes. A decisão de produzir este texto é um convite à reflexão: como podemos evitar essas ocorrências e o que fazer para aumentar a segurança no turismo, especialmente em atividades realizadas dentro de Unidades de Conservação?

Primeiro de tudo, é preciso lembrar: o Brasil é referência em Sistemas de Gestão de Segurança (SGS) aplicados ao turismo de aventura. Um SGS nada mais é do que um conjunto de ações e procedimentos que visam promover a segurança e prevenir a ocorrência de acidentes. Ele pode ser implementado em diversos locais e espaços públicos – inclusive parques e atrativos turísticos.

Com relação a aplicação desses sistemas no turismo de aventura, há cerca de 20 anos existem trabalhos específicos neste tema no nosso país, que conta com mais de 40 normas técnicas vigentes e disponíveis para quem atua na área, voltadas para atividades como montanhismo, escalada, rafting e muitas outras. 

A mais importante delas é a ABNT NBR ISO 21101, de reconhecimento internacional desenvolvida para orientar a implementação de SGS a quem atua na área – esta norma mundial foi baseada em uma norma brasileira. 

“O Brasil tem muito know-how em gestão de segurança no turismo de natureza. Outros países se inspiram no que fazemos por aqui. Precisamos nos reconhecer como referência mundial”, comenta Pollyana Pugas, consultora da ABETA (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura) e especialista em normas técnicas. 

Se o Brasil é referência em segurança no turismo de aventura, o que pode ser feito para que parques naturais e Unidades de Conservação ofereçam a melhor e mais segura experiência? É o que o Conexão Semeia quer auxiliar a responder neste texto. 

Segurança no turismo de natureza: o que gestoras e gestores de parques podem fazer?

Acidentes e incidentes no turismo de aventura não são uma exclusividade do ano de 2025. Atividades em ambientes naturais envolvem riscos – seja por meio de caminhadas, cicloturismo, montanhismo ou qualquer outra. 

Os Sistemas de Gestão de Segurança no turismo existem para controlar riscos – conhecê-los, inclusive, é a primeira e mais importante premissa de quem atua na área. O Instituto Semeia entende que as gestões de Unidades de Conservação têm diversas atividades a realizar, mas se existe prática de turismo de aventura dentro do seu parque, é preciso estar muito bem informado sobre os riscos oferecidos naquele território e preparado para lidar com todos eles com agilidade e responsabilidade. 

Pollyana Pugas é consultora da ABETA e especialista em normas técnicas.

Nos parques, alguns exemplos práticos para controle de risco envolvem a melhoria e implementação de sinalização, infraestruturas para os visitantes e aquisição de equipamentos de segurança; desenvolvimento de processos de consulta e comunicação com visitantes; e definição de procedimentos para resgate de pessoas acidentadas em atrativos turísticos.

“O primeiro passo para o gerenciamento de risco e segurança no turismo é o conhecimento. Muita gente só enxerga a importância, e só vai atrás da informação quando acontecem eventos indesejados. E as informações estão acessíveis: basta buscar”, lembra Pollyana. 

Quando a especialista em SGS cita que o conteúdo existe e está disponível, é bom lembrar da Norma ABNT NBR ISO 21101, que citamos anteriormente. Por ser considerada uma norma base, podemos chamá-la também de transversal: ela deve ser aplicada em todas as atividades, e deveria ser vista como obrigatória em qualquer negócio relacionado ao turismo.

“A ISO 21101 colabora para prevenir incidentes, atua em casos de planos de ação de emergência. A Norma serve como referencial para que se possa construir isso dentro da realidade da Unidade de Conservação, de uma forma que seja aplicável e factível para a gestão”, explica Pollyana. 

Para entender melhor a Norma e saber como aplicá-la, a ABETA produziu um material que pode ser lido clicando aqui. Além disso, a Associação também oferta uma série de cursos voltados à segurança no turismo de aventura. Confira a agenda.

A importância da comunicação 

Se para quem atua na gestão de parques naturais é mandatório conhecer cada detalhe dos Sistemas de Gestão de Segurança, é igualmente importante que essas unidades comuniquem claramente os riscos que os visitantes vão experienciar nelas.

“É importante sempre deixar o mais evidente possível quais os processos de segurança serão aplicados, quais são os protocolos e não esquecer de orientar como as pessoas devem se comportar nesses ambientes. Evitar selfies que as coloquem em situações de risco, utilizar os equipamentos recomendados: tudo isso é parte das obrigações de quem recebe”, comenta Pollyana. 

A segurança no turismo em parques naturais e Unidades de Conservação é parte fundamental da experiência positiva de visitantes e turistas. Por isso, mapear os possíveis riscos e implementar ações para saber como agir em caso de eventos indesejados é essencial.  

Debates são fundamentais para se pensar a segurança no turismo em parques 

A preocupação com a segurança no turismo de natureza é parte fundamental para que a atividade se traduza na melhor experiência possível para as pessoas que frequentam Unidades de Conservação pelo Brasil. Se queremos que os parques sejam uma ferramenta de transformação real, é essencial que as práticas sejam seguras. 

Pollyana acredita que – além de estar bem informado e preparado para lidar com acidentes – é preciso ampliar as discussões sobre o tema. Para ela, os debates e reflexões precisam chegar às cadeiras universitárias, ao poder público e ao consumidor final. 

“O assunto precisa ir além dos segmentos do turismo de aventura. É importante sensibilizar as gestões públicas, disseminar as informações, promover políticas públicas e parcerias voltadas para isso. As pessoas precisam saber que existem normas técnicas para realizar as atividades de aventura”, afirma a consultora da ABETA. 

“Entendemos que muitos dos acidentes acontecem por falta de conhecimento, por falta de preparo. As pessoas não estão acostumadas a se portar em ambientes naturais. Então, quanto mais informações existirem, quanto mais as pessoas ouvirem falar no tema, mais vão entender quais são os padrões de segurança e mais vão exigir que quem presta estes serviços siga as normas vigentes”, complementa.

Como explicou Pollyana, existem regulamentações voltadas para a segurança no turismo de aventura. Ou seja: é preciso entender o papel legal das responsabilidades de cada ente, sejam públicos ou privados.

“Os possíveis eventos indesejados podem ocorrer. Então é importante que as pessoas se apropriem desse conhecimento construído ao longo de anos. Quanto mais antenada cada gestão estiver, menor a chance de problemas acontecerem”, finaliza.

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