Observação de aves é aliada na proteção da biodiversidade das unidades de conservação
Com quase 100 mil praticantes pelo país, a atividade também contribui para o desenvolvimento do turismo de natureza nas UCs. Saiba mais!
16/11/2021
Foto: Parque Nacional Chapada dos Guimarães (MT) / Andrea Weschenfelder CCBY-SA 4.0.
Em agosto de 2020, um acontecimento inédito foi registrado no Paraná pelo observador de aves Francisco Herochi Hamada: uma harpia, a maior águia das Américas que se encontra ameaçada de extinção, estava sobrevoando livremente os arredores do Rio Iratim. Tal registro fotográfico surpreendeu a comunidade científica do país e teve a possibilidade de ajudar em um projeto maior de recuperação da espécie.
Esse é um dos exemplos das contribuições da observação de aves à conservação da biodiversidade brasileira. A prática, originária da Inglaterra do século XIV, chegou ao Brasil somente na década de 1980 e foi desenvolvida principalmente por ornitólogos que lideraram as primeiras gerações de observadores de aves do país, produzindo um grande volume de conhecimento das espécies brasileiras.
Conforme explica Guto Carvalho, criador e organizador do Avistar, o maior evento de observação de aves do Brasil, o advento das novas tecnologias digitais e das redes sociais possibilitou o aumento da projeção dessa atividade, resultando em novos adeptos para além da comunidade acadêmica. “Atualmente, é possível estimar quase 100 mil praticantes de observação de aves no país”, diz Guto. Pessoas das mais variadas formações, de diferentes idades e com interesse genuíno pelo contato com a natureza formam essa rede de observadores de aves pelo Brasil.
Fato é que essa prática já é considerada um nicho que potencializa o desenvolvimento do turismo de natureza no Brasil. A atividade alia baixo impacto ambiental com geração de oportunidades de renda para as unidades de conservação (UCs) e às comunidades locais. Ao atrair observadores brasileiros e estrangeiros para os diversos destinos naturais do país, a prática movimenta meios de hospedagem, produção e venda de produtos para a observação, além da contratação de guias especializados para conduzir em trilhas apropriadas para a atividade, entre outros.
Se, no Brasil, o “passarinhar” tem alçado voos promissores para o setor de turismo, em outros países, a atividade já registra números expressivos para a economia. Nos Estados Unidos, por exemplo, a observação de aves movimenta mais de US$ 40 bilhões por ano, incluindo gastos com viagem e equipamentos.
Além do aspecto turístico, a observação de aves nas UCs abre oportunidades para que, por meio dessa prática, seja fomentada a geração de conhecimento cidadão e iniciativas de educação ambiental. A esse respeito, Guto explica que órgãos federais como o ICMBio, além de secretarias municipais, estaduais e entidades ligadas a elas, como a Fundação Florestal, em São Paulo, já reconhecem e incentivam programas de observação de aves nas UCs.
“Um dado relevante é que no momento da visita, os observadores trazem bastante informações para as unidades de conservação sobre diversas espécies existentes ali. Inclusive já houve casos em que novas espécies foram adicionadas a lista das UCs por meio das descobertas feitas pelos observadores”, relata Guto.
Ao acompanhar as aves em seus habitats naturais, os observadores ajudam na identificação das espécies de um determinado local e fazem registros de como essas aves se relacionam no ambiente onde vivem. Com isso, essas pessoas ressignificam os sentidos e valores atribuídos às unidades de conservação e, assim, o ato de “passarinhar” torna-se mais que um hobby – um verdadeiro compromisso pela valorização do patrimônio natural e proteção da biodiversidade brasileira.
BRASIL É DESTINO PRIVILEGIADO PARA OBSERVAÇÃO DE AVES
De acordo com o Comitê Brasileiro de Registros Ornitológico, o Brasil registra 1919 espécies catalogadas e é reconhecido por possuir mais de 18% de todas as aves do mundo. Com isso, ocupamos a segunda posição do país com mais diversidade de aves do mundo.
Uma das principais plataformas de disseminação de conhecimento sobre a espécie e a atividade de observação de aves no país é o site WikiAves. Por lá é possível acessar registros fotográficos e sonoros produzidos por praticantes de todo o país. Desde o seu lançamento, em 2008, a plataforma já recebeu quase três milhões de fotos e sons de aves de diversas regiões brasileiras.