Crescimento do turismo de natureza pode auxiliar na conservação dos parques brasileiros
Atividade pode ser uma ferramenta de apoio à proteção da biodiversidade, desde que sejam elaboradas estratégias adequadas de uso público
10/08/2022
Aumento sustentável das visitas aos parques naturais no Brasil possui potencial de gerar um milhão de empregos. Foto: Carol da Riva.
O turismo de natureza é uma tendência mundial. Segundo levantamento publicado em 2021 pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), o setor envolve cerca de oito bilhões de visitas a áreas protegidas e 600 bilhões de dólares em gastos diretos por ano. Com o aumento sustentável das visitas aos parques naturais, o Brasil, por sua vez, possui potencial de gerar até 44 bilhões de reais ao PIB brasileiro, e cerca de um milhão de empregos.
Além de beneficiar a economia, o turismo de natureza também pode apoiar a proteção da biodiversidade, desde que os benefícios econômicos se aliem à conservação ambiental. Para que esse objetivo seja alcançado, é necessário um planejamento de visitação que envolva também ações de monitoramento e avaliação de impacto, além do engajamento com a comunidade do entorno em todas essas etapas.
A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) afirma que, sem esse planejamento adequado, o turismo de natureza pode causar efeito contrário ao esperado, com redução do fluxo de visitantes como consequência de prejuízos ambientais. Segundo o tratado, os problemas mais recorrentes são a destinação incorreta dos resíduos gerados pelos visitantes, que podem poluir as águas e as áreas de vegetação nativa, e a introdução de espécies exóticas nos locais, que podem provocar perda de biodiversidade e pressão sobre os habitats.
Com o objetivo de auxiliar os países na adoção de iniciativas de conservação ambiental nas áreas de uso público, a CDB disponibilizou, em 2015, um manual de diretrizes, cuja tradução, realizada pelo Semeia, pode ser acessada aqui. As ações vão desde educação ambiental participativa até planos de gestão de resíduos e efluentes, que podem diminuir os impactos sobre a unidade de conservação e incentivar a economia circular.
Para que o turismo nos parques seja aliado da biodiversidade, a CDB aconselha uma “abordagem ecossistêmica”. Isto é, que envolva a gestão integrada da terra, da água e dos recursos vivos, promovendo a conservação e o uso de modo sustentável. Quando isso acontece, gera benefícios econômicos e melhor qualidade de vida a todos os atores envolvidos. A atividade torna-se uma alternativa de renda e de preservação cultural das comunidades, além de conscientizar sobre a importância das áreas conservadas.
Exemplos internacionais
O Conexão Semeia sempre aborda exemplos de unidades de conservação nacionais e suas iniciativas. Porém, para que as ações dos parques brasileiros estejam na vanguarda da conservação ambiental, também é importante mirarmos experiências bem-sucedidas de outros países.
Um exemplo pioneiro citado pela CDB é a empresa peruana Inkaterra, que opera hotéis na região de Machu Picchu e na Amazônia Peruana. Além de proporcionar experiências de turismo de natureza, a companhia realiza projetos de desenvolvimento sustentável por meio da ONG Inkaterra Association (ITA). Entre eles, está a criação de uma reserva ecológica de 15 mil hectares de floresta primária em Tambopata, a manutenção da maior coleção de orquídeas nativas do mundo e a criação do Centro de Resgate do Urso Andino.
Em nosso estudo “Parques como vetores de desenvolvimento para o Brasil”, também buscamos referências internacionais para entender iniciativas que tornaram países bem-sucedidos no setor. Outro exemplo citado é o da Nova Zelândia. Por lá, empresas operadoras de turismo lideram iniciativas de conservação com a participação de turistas. Entre as ações realizadas, a Real Journeys, por exemplo, destina um valor por cada cliente que adquire seus serviços para o “Cooper Island Restoration Project” (Projeto de Restauração da Ilha Cooper).
O Semeia acredita que o turismo de natureza nos parques brasileiros pode ser um grande aliado da conservação e que ambos serão potencializados se houver a colaboração dos diversos agentes que compõem esse ecossistema. Por meio do trabalho em conjunto, é possível desenvolver iniciativas estruturantes para aprimorar a gestão, conservação e manutenção dos nossos recursos naturais, valorizar tradições e costumes locais, além de fortalecer e promover os destinos nacionais.