Como os parques naturais podem ajudar a ONU na Década da Restauração?

Áreas protegidas são aliadas importantes do Brasil para atingir a meta de recuperar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Saiba mais!

07/06/2021

Foto: Parque Nacional da Serra da Canastra (MG) / Thiago Melo CC BY 2.0.

Na última semana, no dia 5 de junho, foi celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente, uma data que vem envolvendo milhões de pessoas há quase 50 anos em torno de temas relevantes para a área ambiental, como consumo consciente e mudanças climáticas . Neste ano, o foco será na recuperação de ecossistemas, coincidindo com o início da Década da Restauração, instituída pela ONU como uma iniciativa de reforço em prol da proteção da biodiversidade.

Como explica a coordenadora de conhecimento do Semeia, Mariana Haddad, a Década da Restauração é um desdobramento da ação que começou em 2010, quando a ONU decretou a Década da Biodiversidade. “Nesses últimos dez anos que se passaram, os cientistas observaram uma perda acelerada da biodiversidade. Terminando essa década, eles olharam para o que precisa ser feito para conter e reverter a perda de biodiversidade e dos recursos naturais. Assim surgiu a Década da Restauração”.

E onde os parques entram nisso? Além de conectar as pessoas com a natureza, eles cumprem um importante papel para a proteção e manutenção da biodiversidade. “Os parques conservam belezas e patrimônios naturais únicos. São áreas que são delimitadas e estão ali para cumprir com o objetivo de proteger a diversidade biológica do planeta”, lembra Haddad. 

Ao envolver as pessoas e o entorno para a recuperação dessas áreas, vai sendo criada uma conscientização ambiental de médio e longo prazo. Para a ONU, a restauração da relação entre seres humanos e natureza também faz parte dos objetivos da Década, e os parques podem ser aliados nisso.

Vale lembrar que os parques também ajudam a proteger nascentes e rios, como é o caso do Parque Nacional da Serra da Canastra (MG), que abriga a nascente do Rio São Francisco. Chamado de rio de integração nacional, o Velho Chico, como é carinhosamente conhecido, tem 2.800 quilômetros de extensão e a sua bacia hidrográfica é equivalente ao tamanho da França. Possui seis hidrelétricas instaladas em toda a sua extensão e é um dos grandes responsáveis pelo abastecimento de água no semiárido nordestino.

Para a coordenadora de conhecimento no Semeia, há ainda um movimento importante que acontece nos parques que é olhar para o seu entorno. Isso pode não ser encarado como uma medida de restauração, mas de contenção da degradação e do desmatamento, como também de aliar conservação e desenvolvimento econômico. Mesmo não sendo uma medida direta de restauração, ela previne, por exemplo, que haja a ocupação dessas áreas protegidas, como acontece no Parque Nacional da Serra da Bocaina (SP), que tem uma forte interface com as comunidades do entorno de três estados – São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

No Brasil, o exemplo mais emblemático do que a restauração pode fazer por uma área está no Parque Nacional da Tijuca, símbolo do Rio de Janeiro, que completa 60 anos em julho deste ano. O replantio das árvores na Tijuca começou em 1862, um ano depois de Dom Pedro II ter assinado um decreto-lei para preservar as florestas. Em apenas 13 anos, foram plantadas mais de 100 mil árvores, principalmente espécies da Mata Atlântica. O objetivo era ajudar a preservar as nascentes em um momento de seca, mas os benefícios vão além do fornecimento de água. Se a floresta não existisse, o Rio de Janeiro poderia ser 5 graus mais quente.

A imagem mostra um vista do Parque Nacional da Tijuca, um bom exemplo de restauração.
Parque Nacional da Tijuca (RJ), que está completando 60 anos em 2021, é um bom exemplo de restauração. Foto: Ana Carla AZ / Wikipedia.

Já está claro que a restauração é importante para a conservação da biodiversidade. Mas, afinal, o que ela significa? A restauração nada mais é do que a recuperação de ecossistemas que foram degradados ou destruídos, como aconteceu na Floresta da Tijuca. E essa recuperação pode acontecer de muitas maneiras. Mariana Haddad explica que existem várias técnicas de restauração e é preciso conhecer melhor o local, as suas condições, o clima e outros aspectos para saber qual delas usar em cada situação. Mas todos os tipos de ecossistemas podem ser restaurados, incluindo florestas, terras agrícolas, cidades e oceanos.

A estimativa da ONU é de que as ações em torno da Década da Restauração de Ecossistemas possam gerar US$ 9 trilhões em benefícios, aumentando a segurança alimentar para 1,3 bilhão de pessoas e mantendo o aquecimento global abaixo de 2 graus. Também pode haver uma economia de US$ 890 milhões por ano em custos de tratamento de água nas maiores cidades do mundo.

O objetivo é olhar para 2 bilhões de hectares de áreas degradadas, o dobro do território de toda a Europa, e reforçar planos internacionais como o Desafio de Bonn, que reúne compromissos para recuperar 350 milhões de hectares de floresta até 2030. Neste âmbito, o Brasil se comprometeu a recuperar pelo menos 12 milhões de hectares de florestas até 2030, uma área equivalente ao estado do Paraná.

Para Mariana, a meta é ambiciosa, mas possível de ser atingida. “Para isso, precisamos de fato conter o desmatamento. É fácil falar isso, mas, na prática, é um esforço enorme que envolve governos, sociedade civil e setor privado”. Ela destaca que a pandemia começou a abrir o olhar das pessoas e das lideranças de que há algo errado e de que é preciso pensar mais no meio ambiente. “E existe também um movimento de o Brasil começar a olhar a restauração e a preservação não como uma atividade que trava a economia, mas pelo contrário, como uma atividade que pode gerar ganhos econômicos e colocar o Brasil em uma posição mais competitiva”, ressalta.

A coordenadora lembra que a principal mensagem do Dia do Meio Ambiente e da Década da Restauração é alertar que estamos no ponto de inflexão. Então, ou “olhamos para o futuro pensando em como cuidar dos recursos naturais, pensando em como restaurar, ou vamos para um caminho que pode não ter volta”. Por isso, na próxima década, é importante “repensarmos o que a gente já fez errado, para trabalharmos para reverter a perda de biodiversidade, pensando em um futuro melhor pra gente e para as outras gerações”.

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