Artigo - Turismo de natureza e conservação: caminhos para fomentar a conscientização ambiental

Face às mudanças climáticas e os fenômenos extremos frequentes, é preciso usar todas as ferramentas disponíveis para construir um futuro mais sustentável

16/01/2024

Garganta de Fortaleza | Foto: Celli07

Artigo de Rodrigo Góes, gerente de projetos do Instituto Semeia, publicado originalmente no Correio Braziliense

Nas imagens que chegam da Amazônia, os leitos de rios secos com imensas quantidades de areia antes submersas lembram mais desertos que a maior bacia hidrográfica do planeta. Ao mesmo tempo, no Sul, as chuvas intensas transformam o que era terra em água, também batendo recordes, levando vidas e ameaçando cidades. Claro que o famoso El Niño tem grandes contribuições, mas os cientistas são categóricos ao afirmar que esse tipo de fenômeno extremo será cada vez mais frequente por conta das mudanças climáticas.  É um momento que exige urgência no engajamento da humanidade em prol da proteção do planeta. E isso requer um olhar coletivo para a mesma direção.

Não se trata de idealizar o mundo estático, sem crescimento econômico, mas de fazer a roda girar por meio do desenvolvimento sustentável, desencadeando um ciclo virtuoso. E nesse contexto, nossos parques, se bem conservados, podem contribuir nesse processo ao fomentar o turismo e criar vínculos positivos com as pessoas, seja pelos impactos socioeconômicos que promovem, pelos benefícios que geram para a nossa qualidade de vida ou pelas emoções provocadas pelo contato com a natureza em todo seu esplendor. 

Ao voltar para casa, criada uma conexão sentimental com a natureza pautada pela educação ambiental, passamos a considerar como nossas ações diárias afetam o clima, a natureza e outras pessoas e, da mesma forma, como podemos minimizar os impactos negativos e potencializar a construção de um futuro sustentável, seguro, justo e inclusivo. Mas para isso é necessário que os parques sejam visitados.

Esse objetivo comum tão necessário ainda precisa ganhar mais força entre os diversos formuladores e executores de políticas públicas para o turismo de natureza nos parques. A adição de ‘Mudança do Clima’ ao Ministério do Meio Ambiente vem nesse caminho, mas precisamos de mais: precisamos de uma visão comum que una não só órgãos públicos, mas toda a cadeia do turismo e a sociedade, para que as ações sejam coordenadas nesse sentido. Possuímos de um lado um setor de turismo bem estruturado, sedento por novas experiências para oferecer a quem viaja, e do outro, uma natureza majestosa tão bem refletida em nossos parques.

Algumas iniciativas têm sido feitas para tentar melhorar esta dinâmica. Uma delas é a Rede Brasileira de Trilhas, entidade civil que congrega trilhas nacionais, regionais e locais, cada uma com uma estrutura de governança própria. Ao lado do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Ministério do Turismo e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), com apoio dos destinos, moradores locais, voluntários e trade turístico, a associação se dedica a implementar, manter e apoiar a divulgação das trilhas brasileiras, diversas delas integrando vários parques e outras unidades de conservação. É um bom exemplo de ação voltada a estimular o turismo alinhado à conservação. 

Ações como essa ajudam o país a alcançar seu potencial de 56 milhões de visitantes anuais conforme apontado pelo “Parques como vetores de desenvolvimento para o Brasil”, desenvolvido pelo Instituto Semeia e que pode ser encontrado no site da instituição. Para se ter uma ideia do quão aquém estamos, só no ano passado esse contingente, nos parques nacionais, não passou de 11 milhões de pessoas.

O desenvolvimento depende dessa visão comum, mas também da formulação de políticas públicas estruturantes que de fato fomentem a visitação em nossos parques. Esse é outro passo fundamental para traçar estratégias que reforcem os impactos do turismo nesses espaços. 

Essa agenda tem tudo para ganhar força na COP 30, que acontece em 2025 em Belém (PA), e destacar a relevância dos parques e outras unidades de conservação nesse contexto. Também é uma oportunidade para que o governo deixe um legado para o futuro, mostrando que os benefícios da visitação não são apenas para visitantes e moradores, mas para todos nós em um ambiente ecologicamente equilibrado. 

Esse caminho se tornará menos árido se conseguirmos coordenar esforços coletivos que rumem para uma mesma direção. Caso isso aconteça, poderemos almejar para as próximas décadas um sistema nacional que integre, cada vez mais, os parques em todo o seu potencial de conservação do meio ambiente e de turismo sustentável.

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