Deijacy Rego

Gestor do Parque Nacional da Chapada das Mesas (MA)

“Acredito no processo de mobilização educativo”

Ativista ambiental há mais de 30 anos, Deijacy compartilha as lutas e conquistas da sua trajetória no Parna Chapada das Mesas. Confira!

26/05/2022

Desde 2005, o Cerrado brasileiro conta com um importante aliado para a conservação da sua biodiversidade: o Parque Nacional da Chapada das Mesas, no Maranhão. Tamanha conquista só foi possível graças ao engajamento e à luta de pessoas como Deijacy Rego, ambientalista por vocação que há mais de 30 anos se dedica à proteção ambiental e à valorização dessa região.

Morador de Carolina, município que abriga o parque, Deijacy conhece como a palma da mão cada cantinho dele. Ainda assim, consegue contar histórias do local com o mesmo entusiasmo e encantamento de quem acaba de avistar pela primeira vez a região. “É uma dádiva, uma alegria ter o Cerrado com uma diversidade biológica, de flora, de fauna, de tudo, dentro dessa área”, celebra.

À frente da gestão do parque há pouco mais de cinco anos, ele compartilha nesta entrevista os fatos que marcam sua trajetória como defensor dessa área e enfatiza como o esforço coletivo e a aproximação com a comunidade podem fazer a diferença em prol das unidades de conservação brasileiras.

Em entrevista ao Conexão Semeia, Deijacy nos conta um pouco mais sobre a carreira, os desafios e as lições aprendidas. Confira:

CONEXÃO SEMEIA – Como começou a sua trajetória de gestor de parque?

Deijacy – Foi em julho de 2016. Eu, aliás, sou um dos que fizeram a mobilização para a criação do parque. Muita coisa conseguimos avançar nesses mais de cinco anos, porque as dificuldades são enormes, mas com força de vontade e trabalhando dia a dia, a gente conseguiu avançar muito. Hoje podemos dizer que Chapada das Mesas é um parque bem consolidado, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos, inclusive na pandemia. 

CONEXÃO SEMEIA – Antes de ser gestor você já tinha uma trajetória tão engajada com o Parque Nacional da Chapada das Mesas?

Deijacy – Eu sempre fui ativista. Tenho mais de trinta anos como ativista na área ambiental. Inclusive, quem criou o movimento ambientalista aqui no sul do Maranhão fui eu. Hoje, fico muito feliz em ter contribuído para a proteção do Cerrado. Foi um grande desafio e fiquei muito tempo no anonimato, ajudando os gestores da época […]. Só que nenhuma das grandes lutas que travei foi pensando no Deijacy Rego, mas naqueles que ali nasceram, no coletivo. Hoje, fico feliz por ter conseguido. Deus me dá coragem, saúde e sabedoria para enfrentar esses grandes desafios. 

“Nenhuma das grandes lutas que travei aqui foi pensando no Deijacy Rego, mas naqueles que ali nasceram, no coletivo”, conta Deijacy, sobre sua trajetória na Chapada das Mesas. Foto: Acervo pessoal

CONEXÃO SEMEIA – E o que vocês já conseguiram avançar, dentre os inúmeros desafios que a gestão de um parque como a Chapada das Mesas enfrenta?

Deijacy – Um deles que julgo de grande importância e que conseguimos em nossa gestão até agora foi o plano de manejo. Conseguimos elaborar em 2018 e, no dia 20 de agosto de 2020, em plena época pandêmica, assinamos a portaria. Show de bola! Também em 2018 fizemos todo o levantamento fundiário da unidade. Mostramos por mapa onde estavam as propriedades, como estavam, de quem eram, os documentos que encontramos e os que faltavam, quais são as articulações para que continuassem produzindo de maneira sustentável. 

CONEXÃO SEMEIA – E como é para você fazer essa gestão de interesses, essa articulação com múltiplos atores?

Deijacy – A gente não consegue trabalhar sozinho. Nenhum gestor de unidade de conservação, seja de qualquer categoria. Precisamos de várias pessoas envolvidas com pensamento positivo de ajudar, e não de vir com críticas não construtivas. Quaisquer que sejam as novas ideias, a fonte de recurso para ajudar, ou alguma coisa tecnicamente, ou parceria científica para ajudar a unidade, é show de bola. É isso o que a gente busca, uma perfeita harmonia, um perfeito equilíbrio entre as forças que realmente podem nos ajudar.

E qual é o objetivo mais primordial que o gestor tem que olhar? É manter a qualidade ambiental da unidade de conservação e manter a qualidade de vida das pessoas que lá habitam. Porque se você não manter, o meio ambiente estará desequilibrado. 

CONEXÃO SEMEIA – Você fala de toda essa luta com muita paixão e orgulho. O que realmente te inspira a continuar na defesa pelas unidades de conservação?

Deijacy – Eu me apaixonei pela natureza desde que nasci, sempre fui um defensor dela. Sempre me coloquei à frente daqueles que não têm voz. Nunca pensei em ser um bilionário. Pelo contrário, as coisas que eu tenho são minha casinha e um carrinho velho [risos]. Conclusão: eu nasci pra isso! Se você checar a minha página no Instagram verá as minhas postagens. Virei fotógrafo sem me dizerem como operar uma máquina, e eu ganho muitos elogios. Hoje, sou o detentor de quase todas as fotos de pássaro que tem no sul do Maranhão! Eu empresto, libero, autorizo para todo mundo usar.

Agora estamos finalizando três livros que contam um pouco da nossa história. O primeiro é chamado “Zé do Norte”, história sobre um Zé que vive no meio dessas selvas, dos bichos e das pessoas. O outro é um livro de pássaros da Chapada das Mesas. Esse vai ser um show também! E o outro é um livro de pássaros da região entre o Cerrado e a Caatinga […].

Eu acredito no processo de mobilização educativo. Mostrar para as pessoas que as práticas do passado não cabem no mundo de hoje, com o planeta na UTI. Eu ando com a minha tralha no carro o tempo todo. E qualquer que seja o lugar, eu trago uma bateria de foto [risos]. 

Aqui, chegam cientistas para fazer pesquisa no parque ou no entorno e me perguntam: “Deijacy, onde é que eu encontro o pássaro tal?”, e eu digo: “No lugar tal”. Então a gente tem uma enciclopédia viva, que tem tudo na ponta do dedo.

E a gente só defende aquilo que conhece. Essa é a regra! Não adianta você ser um ecologista de carteirinha como eu e fazer discurso bonito na universidade – porque eu dou muita palestra nesses lugares – e depois as suas práticas não serem iguais ao seu discurso, serem pior do que o seu discurso. As minhas atitudes são muito coerentes pela figura que eu sou, pela história que eu tenho nessa luta. 

O registro de grande parte das espécies de aves do parque também conta com as contribuições de Deijacy, que compartilha em sua rede social as belezas encontradas na UC. Foto: Arquivo pessoal

CONEXÃO SEMEIA – E houve algum momento em que você já pensou em desistir?

Deijacy – Olha, eu ainda tenho muito gás! Com 60 anos, graças a Deus, estou muito bem de saúde, até porque eu faço atividade física, não tenho problemas de pressão, não sou diabético, estou muito bem pela minha idade. A gente precisa consolidar algumas coisas, temos um caminho pela frente e eu quero ajudar!

CONEXÃO SEMEIA – E olhando para o futuro, o que você sonha para os parques brasileiros?

Deijacy – Cada parque tem suas particularidades. Mas, enquanto não houver empenho das comunidades, do município, do estado e da União, os parques serão vistos sempre como um problema. Porque não adianta só o governo federal impor, de cima para baixo. É preciso que os municípios e o próprio estado também sejam parceiros […].

Isso porque o interesse da unidade é de todos! Olha o que diz o artigo 225 da Constituição: é dever de todos manter o ambiente totalmente equilibrado para essa e as futuras gerações. Portanto, é de todos – municípios, estados e União. 

Eu vejo com tristeza as notícias sobre o aquecimento global. Já estamos tendo baixas em muitos lugares do planeta em detrimento das mazelas dos últimos cem anos. Não tem outra saída para a humanidade senão manter a qualidade ambiental das unidades de conservação, seja em qualquer esfera […]. Precisamos manter o ambiente equilibrado, porque todos somos filhos de alguém e vamos deixar alguém como nossos descendentes. 

Sempre digo nas palestras que a vida é um grande movimento e essa parábola de movimento tem três pontos, que eu chamo do nascer, do crescer e desenvolver, e do morrer. Há o nascimento por um ato de amor, depois daí vai crescer; é adaptação ao meio. Você precisa respeitar o meio do qual você veio, o oxigênio que você respira. Isso é sobrevivência. 

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