Semana Nacional do Meio Ambiente: caminhos para ampliar a cultura de visitação nos parques brasileiros
Conversamos com integrantes da comunidade de bolsistas do Semeia para refletir sobre possíveis caminhos para ampliar o número de visitas
03/06/2025

Instituída oficialmente em 1981, a Semana Nacional do Meio Ambiente acontece no Brasil sempre no início de junho – conectada com o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho.
Um dos principais objetivos das datas é conscientizar a população a respeito da vida humana sustentável, em harmonia total com a natureza. O que está intrinsicamente ligado a um dos eixos principais de atuação do Instituto Semeia: o incentivo à visitação de parques e o fomento ao turismo.
Quando o assunto são belezas naturais, o Brasil é constantemente relacionado como destaque mundo afora. Recentemente foi apontado como o melhor país do mundo para a prática do ecoturismo e também como o terceiro melhor do planeta em atrativos naturais, de acordo com o Fórum Econômico Mundial 2024.
Mesmo com a pluralidade abundante de visuais no meio ambiente, nosso país continua tendo potencial para ampliar a visitação em áreas naturais – mas esse potencial esperado ainda está longe de ser atingido. Por que isso acontece? Aproveitando a proximidade com a Semana Nacional do Meio Ambiente, conversamos com integrantes da comunidade de bolsistas do Semeia para jogar luz sobre o tema e refletir sobre possíveis caminhos a serem percorridos.
Aproveitando a Semana Nacional do Meio Ambiente para valorizar a cultura de visitação
É consenso que os números de visitação dos parques naturais e urbanos brasileiros têm crescido. O estudo Visitômetro dos Parques do Brasil, lançado em março de 2025, aponta que as visitas de 2023 atingiram um número recorde.
Mesmo com os 15,9 milhões de visitantes registrados, voltamos ao assunto que trouxemos no começo deste texto: existe potencial para atingir um número muito maior do que esse. Nos Estados Unidos, por exemplo, foram 92 milhões de visitantes nos parques nacionais em 2023.
“Por mais que os números estejam aumentando no Brasil, que muita coisa esteja evoluindo, ainda está muito distante do real potencial dos nossos parques. Se existe o parque, mas não tem estrutura nem comunicação adequada, o potencial de visitação não vai ser atingido”, explica Adriano Melo, engenheiro florestal e bolsista do Instituto Semeia.
“Sabemos que existe uma avalanche de coisas que complicam a situação, especialmente a falta de recursos humanos e materiais. Por isso é preciso fortalecer e descentralizar os esforços de visitação nas áreas protegidas do Brasil”, complementa.
A comparação com outros países, como os Estados Unidos, é sempre complexa. O fortalecimento da cultura de visitação nos parques norte-americanos tem mais de 100 anos: o National Park Service dos nossos vizinhos da América do Norte foi criado em 1916. Como comparação histórica, o ICMBio foi criado em 2007, quase 100 anos depois.
Mas com a chegada da Semana Nacional do Meio Ambiente, como podemos pensar na união conservação-visitação?
“Criar uma cultura de visitação leva tempo. E quem são os atores para investir em educação, sensação de pertencimento, conhecimento, infraestrutura e segurança, por exemplo? Poder público, setor privado, escolas e famílias. Precisamos de um esforço conjunto de todos para alavancar essas variáveis”, aponta Mauro Castex, que tem mais de 20 anos de experiência em ecoturismo e também é bolsista do Semeia.
Políticas públicas e a cultura de visitação em parques
A construção de uma cultura de visitação a parques 100% brasileira é algo que demanda tempo. Além de tempo, são diversos caminhos a serem percorridos, como destacam especialistas no tema: ampliar a relação conservação-uso público nos parques brasileiros demanda ação.
“Quando eu falo em descentralização dos esforços, estou falando em governo federal, estadual e municipal, além de outros atores. Para mim, colocar nossos parques em outro patamar passa pela permeabilidade de órgãos como o ICMBio e Ministério do Meio Ambiente se abrirem cada vez mais a receber ideias, como vem acontecendo nos últimos tempos”, explica Adriano.
Na conversa que tivemos com nossos bolsistas aproveitando a proximidade com a Semana Nacional do Meio Ambiente, surgiram diversos caminhos possíveis para ampliar a cultura de visitação nos parques brasileiros. A seguir, vamos explicar algumas delas.
- Desenvolvimento de setor específico para gestão da visitação: primeiramente, podemos voltar às comparações. Países como Argentina, Estados Unidos e Nova Zelândia possuem setores específicos para gerir o sistema de visitação em Unidades de Conservação, incluindo aí as questões de parcerias e concessões.
“Será que os governos estaduais e municipais pelo Brasil possuem algo parecido? Se não tem setor específico pra gestão da visitação dentro da divisão de áreas protegidas, não tem como fortalecer a agenda. Acredito que fortalecer um sistema de gestão de visitantes é importante e necessário, com as premissas corretas dentro de cada parque”, comenta Adriano.
- Transformar os parques naturais em parte da identidade do país: existe uma parcela da população que já sente um orgulho intrínseco pelas belezas naturais e, consequentemente, pelas Unidades de Conservação brasileiras. Mas é possível – e talvez necessário – ir além para que todo o potencial de visitação dos parques seja atingido. A população precisa conhecer e se conectar a eles, para gerar uma sensação de pertencimento e de identidade.
Tendo vivido 10 anos na Nova Zelândia, Adriano Melo tem conhecimento de causa para falar como essa questão funciona no país da Oceania – e como isso pode se conectar com a realidade brasileira.
“Na Nova Zelândia existe a promoção dos parques. Eles são parte da identidade nacional. O povo neozelandês visita os parques na perspectiva de viver a natureza: não é algo superficial, é uma visitação profunda”, explica.
E como isso pode ser aplicado ao Brasil? É parte de um esforço contínuo e coordenado nas políticas públicas, como lembra Castex:
“É preciso atuar em várias frentes para que possamos ter a tal sustentabilidade do desenvolvimento do turismo, mostrando os benefícios de maneira prática como melhoria da qualidade de vida das comunidades locais recebendo o turista e os benefícios da conservação advindos dessa visitação”.
Adriano lembra que se esse dever de casa for feito por parte do governo, a percepção popular de pertencimento pode ser muito maior.
“Entidades como o Semeia também auxiliam nesse papel, dando suporte nessa direção e trazendo luz para fortalecer a visitação no organograma institucional’, complementa.
- Ampliar a comunicação dos parques brasileiros: a pesquisa Parques do Brasil 2024 – Percepções da População apontou que a falta de informação sobre as unidades é uma das principais barreiras para a visitação. 13% das pessoas afirmam que falta informação sobre os parques naturais e 12% que faltam informações sobre as atividades que podem ser realizadas neles.
Nesse sentido, ampliar as divulgações é um passo fundamental para incentivar e facilitar o planejamento e a organização do turismo nestas áreas.
“As políticas públicas precisam acontecer da melhor forma, expandindo a consciência e a visão das pessoas. A comunicação é parte fundamental”, explica Adriano.
- Os benefícios do contato com a natureza: por último, mas não menos importante, a relação das pessoas com o meio ambiente. Como foi dito por bolsistas do Semeia nas nossas conversas, quando estamos falando entre “pessoas convertidas”, que já entendem os jargões da conservação, não é necessário explicar em detalhes. Mas nem todas as pessoas têm isso claro: o contato com o meio ambiente é extremamente benéfico para o ser humano.
O livro Parcerias Público-Privadas e Turismo, da nossa bolsista Maria Constança Madureira, traz a importância da necessidade de se naturalizar ainda mais a visitação.
- “Algumas teorias científicas dão conta de que os seres humanos, ao longo da sua evolução, foram programados para amar tudo o que é vivo em prejuízo dos objetos, vinda daí, a sensação de prazer pelo contato, convívio com a natureza. Não faltam, contudo, indícios dos impactos positivos do verde na saúde física e mental humana como, por exemplo, alívio do estresse, redução da pressão sanguíneo, melhoria no humor”, explica ela no livro.
Esperamos que essa reflexão tenha sido válida para que o Brasil avance na questão da cultura da visitação. Que nesta Semana Nacional do Meio Ambiente possamos seguir em frente e encontremos soluções e iniciativas para transformar todo esse potencial em realidade.