Um deserto repleto de oásis, todos diferentes entre si. Dono de diversas vistas que podem facilmente serem chamadas de deslumbrantes, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é uma das pérolas ambientais do Brasil.

Com seus 156 mil hectares e formações de dunas que remetem a uma história de mais de 10 mil anos, ele encanta, literalmente, o mundo inteiro: em julho, a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconheceu a unidade de conservação como Patrimônio Mundial Natural da Humanidade.

Mas o que faz do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses um lugar tão especial? Para além dos visuais únicos que compõem o maior campo de dunas da América do Sul, o local conta com rios, dunas, manguezais – e um ecossistema também particular, em uma área de transição entre três biomas, o Cerrado, a Amazônia e a Caatinga.

Mais do que isso: as milhares de lagoas que se espalham por toda a região dos Lençóis proporcionam um ambiente absolutamente singular. Um oásis formado por diversos oásis. 

“O Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é um ambiente de beleza única. Não só pelo que se vê, mas também pela energia associada ao local”, comenta Cristiane Figueiredo, chefe da unidade de conservação desde o início de 2022.

Em 2024, o parque foi apontado como o terceiro mais conhecido do país, de acordo com a 4ª edição da pesquisa Parques do Brasil: Percepções da População, publicada pelo Instituto Semeia em parceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O que pode mudar com o reconhecimento de Patrimônio Natural da Humanidade

Primeiro, a parte prática de uma avaliação como esta. Em 2023, uma equipe técnica da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) visitou a unidade para identificar as condições naturais de preservação, e caracterizá-las dentro dos critérios para o reconhecimento como Patrimônio Natural da Humanidade.

Alguns pontos são analisados para que a validação seja homologada e o local seja reconhecido como de valor universal excepcional:

– Atuação dos prestadores de serviços turísticos dentro do Parque Nacional;

– Beleza natural e aspectos geomorfológicos;

– Integridade do sítio;

– Plano de manejo do parque. 

Se por um lado o reconhecimento como Patrimônio da Humanidade traz orgulho, ao mesmo tempo também vem com uma série de indicações e direcionamentos para os próximos passos do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.

“Por si só, esse reconhecimento fortalece o caminho para ações de políticas públicas, que já vinham sendo feitas. Mas gera um comprometimento institucional de que a preservação vai continuar e que, para isso, algumas ações precisam ser cumpridas”, explica Cristiane.   

Ou seja: o título da Unesco vem com algumas recomendações, que são extremamente importantes para a continuidade de todo o sistema de preservação e conservação ambiental.

De acordo com Cristiane, um dos principais aspectos relacionados às recomendações tem relação com a estruturação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, tendo como ponto de partida o turismo sustentável – valor inegociável.

Neste sentido, ações referentes a capacidade de carga, números balizadores de visitação e infraestrutura devem sair do papel nos próximos meses.

“A própria Unesco entende que quando existe um reconhecimento de uma área de importância internacional, a procura do turismo também aumenta. Mas é preciso ser feito de maneira sustentável e tendo a conservação como norte”, comenta Cristiane.

Infraestrutura básica como controles de acesso, banheiros em lugares de alta visitação e base para pesquisadores devem ganhar atenção especial.

Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e o turismo de base comunitária

É preciso sempre lembrar: o turismo dentro do Parque está diretamente associado às comunidades. São 59 localidades na área da unidade de conservação, com cerca de 1.000 famílias morando ali (estes dados estão em processo de atualização).

As pessoas que moram no Parque têm características tradicionais, e vivem na vegetação do entorno do campo de dunas. E é bom lembrar: tudo isso foi avaliado pela equipe da IUCN; afinal, é parte fundamental do que a Unesco define como “valor universal excepcional”.

“A equipe da IUCN reconheceu que essas comunidades auxiliam na proteção do patrimônio e identificaram que ele está preservado, conservado. É sempre bom pontuar que as pessoas que moram no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses têm relação histórica com esse lugar: não é um processo de invasão, são pessoas que têm relação com o território”, explica Cristiane.

Grande parte dos turistas que visita o local (veja mais abaixo), para não dizer todos os visitantes, tem relação com as comunidades locais. Quem só vai passar o dia, muitas vezes almoça em restaurante comunitário ou descansa em redários também de comunidades locais; quem faz a travessia a pé, dorme em casas de famílias locais.

 A visitação no Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses  

Para quem quer visitar o Parque, são dois pontos principais de entrada: um pela cidade de Barreirinhas e outro por Santo Amaro.

As duas formas mais comuns de visitar o local são com veículos 4×4, em passeios que costumam durar o dia inteiro, ou quem quer fazer trekking com pernoites – as famosas travessias. Normalmente, quem faz o passeio de carro entra por Barreirinhas, enquanto quem prefere a travessia adentra ao Parque por Santo Amaro.

É importante lembrar que as lagoas do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses não são sempre iguais. Muito pelo contrário: elas mudam de acordo com as chuvas. Afinal, a formação delas está totalmente vinculada às precipitações.

Em geral, quem quiser visitar o Parque e se esbaldar nas lagoas que são verdadeiros oásis devem programar a viagem entre maio e setembro – mas, como dissemos, depende muito de como foi o período de chuvas.

As belezas do Parque, porém, vão muito além das dunas de areia e das lagoas. São diversos ecossistemas e ambientes associados. Como, por exemplo, as diversas nascentes, que partem de áreas de baixada e vão drenando até o mar.

Confira aqui alguns atrativos do Parque.

Lagoa da Gaivota
Considerada por muitos como a vista mais bela do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses. O acesso mais próximo a ela é o município de Santo Amaro, tanto por veículos 4×4 como por caminhada. É uma das lagoas perenes do Parque – ou seja, fica sempre com uma quantidade boa de água para banho, independentemente da época do ano.

Aliás, aqui vai uma dica interessante: a região da cidade de Santo Amaro tem grande parte das lagoas perenes dos Lençóis. Além da Lagoa da Gaivota, também podemos destacar a da Betânia e as Emendadas (esta última acessível apenas por meio de caminhada, pois fica no interior do campo de dunas).

Circuito da Lagoa Azul
É o atrativo mais visitado do Parque, a partir do município de Barreirinhas. A depender do dia do passeio, as lagoas visitadas são diferentes. Normalmente, porém, inclui as lagoas da Preguiça, da Esmeralda e, claro, a Lagoa Azul.

Depois de um trajeto de cerca de 45 minutos em veículos 4×4, o carro é estacionado para seguir os últimos 2km a pé pelas dunas até chegar à Lagoa Azul. É importante lembrar: o acesso a ela é permitido por veículos apenas para pessoas com limitação de locomoção, e sempre mediante autorização.

Queimada dos Britos e Baixa Grande
São dois locais com vegetação de restinga e que, mais uma vez, formam verdadeiros oásis em meio ao campo de dunas. São locais chamados de zonas primitivas – o que significa que a visitação só é permitida se houver níveis mínimos de impacto.

As duas localidades são comumente ponto de parada para o pernoite de quem faz a travessia do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, que geralmente dura de 3 a 5 dias. Com certeza uma vivência única em meio à natureza.

As duas áreas só podem ser acessadas junto de um guia ou condutor de turismo devidamente autorizado (a lista destes profissionais está no final deste texto). 

Veja com detalhes todos os principais pontos de interesse do Parque.