Parques brasileiros e pessoas: como fortalecer a experiência de visitação

Atenção a detalhes e projetos que geram conexão com o meio ambiente podem ajudar a fortalecer a relação dos parques brasileiros com a população

11/05/2023

Parque Nacional Cavernas do Peruaçu (MG) | Foto: Fernando Tatagiba/ICMBio

Encontrar o potencial de visitação e a vocação de cada unidade de conservação é um dos grandes desafios das pessoas que estão à frente da gestão desses espaços. É justamente por esta razão que a visitação nesses lugares é objeto de constantes reflexões e debates. Como fazer com que essa relação entre as pessoas e os parques brasileiros seja fortalecida nos próximos anos?

Os tópicos que conseguimos mapear com a pesquisa Diagnóstico do Uso Público em Parques Brasileiros: a Perspectiva da Gestão, que na edição de 2023 contou com a participação de 371 gestores e gestoras de parques naturais de todas as esferas administrativas, estados e biomas brasileiros, dão uma luz sobre algumas ações possíveis.

Fica claro que não existe uma receita de bolo para isso – mas existem inúmeros caminhos para fortalecer essa relação.

Detalhes fazem toda a diferença

Dayanne Sirqueira é chefe do Núcleo de Gestão Integrada Peruaçu, que reúne duas unidades: o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e a Área de Proteção Ambiental (APA) Cavernas do Peruaçu. Para ela, um dos grandes segredos para aproximar a comunidade dos parques está na atenção aos detalhes.

“Temos planos e ansiamos por coisas grandes, mas as pequenas coisas do dia a dia são essenciais para fortalecer a relação com as pessoas que visitam as unidades. Um banheiro que funciona, um espaço limpo, um lugar em que as pessoas se sintam bem: na nossa experiência, isso faz muita diferença”, explica ela.

Interessante que o banheiro, citado por Dayanne, é mencionado também no Diagnóstico do Uso Público. De acordo com os dados da pesquisa, para 51% dos respondentes, a infraestrutura básica inadequada (banheiros, bebedouros, centro de visitante, por exemplo) é o aspecto que menos agrada os visitantes na percepção da gestão.

No caso do Núcleo Peruaçu, existe uma parceria de gestão com o Instituto Ekos desde 2017. Por meio do Acordo de Cooperação firmado com o ICMBio, por exemplo, foi implementada a Trilha do Arco do André, dentro do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Mas, para Dayanne, os efeitos positivos da parceria vão muito além disso.

“É claro que um atrativo como a Trilha do Arco do André brilha os olhos de todas as pessoas da comunidade e de quem visita o parque. Mas esse tipo de parceria traz subsídios para a unidade em muitas coisas que não são vistas, mas que fazem toda a diferença na visitação: uma descarga que faz com que o banheiro fique limpo, um parafuso que faz com que uma cancela funcione”, conta ela.

O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu passou de 500 visitantes em 2014 para quase 10 mil em 2019, no pré-pandemia. Em 2022, foram 8.997. | Foto: Renato Machado

Pesquisas de satisfação e gestão socioambiental

Quando conversamos com gestoras e gestores dos parques brasileiros, é comum ouvirmos que as unidades de conservação são para todas as pessoas – desde a comunidade do entorno até visitantes que vêm de outros países.

“Temos uma preocupação de que as coisas precisam ser feitas de dentro para fora. As pessoas do entorno são muito importantes e precisamos ouvi-las, assim como ouvir as pessoas que visitam o parque. Não tem como fazer só a gestão ambiental, é preciso fazer a gestão socioambiental”, exemplifica Dayanne.

No caso do Núcleo Peruaçu, a unidade realiza controle de acesso, contagem do número de visitantes e também aplica pesquisas de satisfação. Inclusive, foi através das pesquisas de satisfação que a gestão entendeu que a falta de manutenção dos banheiros era um problema para o local. Importante ressaltar que nosso Diagnóstico do Uso Público apurou que a contagem direta de visitantes ocorre em apenas 39% dos parques e as pesquisas de satisfação em 37%.

“O Parque é maravilhoso, os atrativos falam por si só. Mas a propaganda negativa que um banheiro sujo faz é muito ruim, não só para o parque em si, mas para as unidades de conservação do Brasil como um todo”, explica a gestora.

Além da parceria com o Instituto Ekos, a unidade utiliza ferramentas complementares de gestão que auxiliam a que mais pessoas conheçam o parque. | Foto: Edgar Corra Kanayk

Parcerias, projetos e acordos

O fortalecimento da relação dos parques brasileiros com a população passa também por desenvolver projetos – seja com a comunidade do entorno ou com outras associações e empresas. Segundo o diagnóstico, a maioria dos parques (76%) possuem ao menos uma parceria, seja com universidades, iniciativa privada ou terceiro setor, órgãos públicos, entre outros. Mais uma vez, podemos usar o Núcleo Integrado de Gestão Peruaçu para exemplificar.

Além da parceria com o Instituto Ekos, a unidade utiliza ferramentas complementares de gestão que auxiliam a que mais pessoas conheçam o parque. Neste caso, mais um ponto positivo na relação das unidades de conservação com o público: as pessoas só se interessam e só preservam aquilo que elas conhecem.

“Sozinha, a gente não consegue nada. As pessoas precisam conhecer, precisam visitar os parques. A gente precisa do apoio da comunidade local, de parcerias, do envolvimento com as prefeituras”, diz Dayanne.

Dentre os projetos desenvolvidos pelo Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, três se destacam:

• Escola nas Cavernas: parceria com os municípios de abrangência para levar alunos e alunas ao parque;

• Comunidades nas Cavernas: projeto em implantação que visa levar pessoas das comunidades do entorno à UC;

• Projeto Peruaçu, Uma Trilha para a Acessibilidade: parceria com a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) local, que visa levar pessoas com diversos tipos de deficiência ao parque.

“A abertura deste projeto foi em 2022, mas não queremos que seja um evento. Nossa ideia é que seja algo constante, que as trilhas sejam adequadas para recebermos todas as pessoas e tenham acesso aos atrativos de forma natural”, ressalta Dayanne.

Todas as ações realizadas no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu trouxeram resultados em relação ao uso público. O local passou de 500 visitantes em 2014 para quase 10 mil em 2019, no pré-pandemia; em 2022, foram 8.997 visitantes.

“As pessoas são fundamentais para que as unidades sejam mais valorizadas. Precisamos ouvi-las, precisamos estar ao lado delas. Quando fazemos esse tipo de trabalho de aproximação, existe uma mudança no olhar: as pessoas passam a entender os porquês de fortalecer a relação. É isso o que queremos”, finaliza Dayanne. Para saber mais sobre a pesquisa de uso público nos parques brasileiros, acesse este link.

Assine nossa newsletter e fique por dentro das novidades!

Rua Amauri, 255, 9º andar
Jardim Europa, São Paulo – SP
CEP: 01448-000
+55 11 5180.0260
© Instituto Semeia – Todos os direitos reservados – Site por NaçãoDesign, com referências ao projeto de Tati Valiengo e Tiago Solha Design Gráfico