Trilhas de longo curso estimulam visitação a parques e auxiliam conservação

Com rotas que interligam unidades de conservação, é possível criar um corredor da fauna que, além de conservar, pode proporcionar lazer e fomentar geração de emprego e renda

04/11/2021

Trilha no Parque Nacional de Ilha Grande, que integra a Rota dos Pioneiros (PR). Foto: Acervo/ICMBio.

Já pensou poder percorrer o Brasil de Norte a Sul e de Leste a Oeste por meio de trilhas na natureza? Este é o objetivo da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, iniciativa pioneira no país que pretende criar uma grande rota nacional conectando centenas de unidades de conservação (UCs) brasileiras.

Na prática, as trilhas são um instrumento estratégico de conservação da biodiversidade, pois permitem a criação de corredores contínuos que facilitam a movimentação da fauna, além de proporcionar uma integração desses territórios que, historicamente, passaram por processos de fragmentação decorrentes de atividades humanas.

As rotas de longa distância também podem ser consideradas uma importante aliada para a promoção do uso público consciente dos parques e demais unidades de conservação, aspecto previsto no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), na medida em que estimulam a conscientização ambiental e ajudam a fomentar o turismo de natureza.

No Brasil, a primeira iniciativa de integração de rotas regionais surgiu em 2017, quando foi inaugurada a Trilha Transcarioca, que integra seis unidades de conservação de proteção integral com uma sinalização padronizada, aos moldes de outros exemplos globais. “A sinalização da Transcarioca começou na raça, com voluntários, familiares e amigos”, conta Pedro da Cunha e Menezes, diretor da Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, que narrou a idealização e implantação desta primeira trilha no livro “Transcarioca: todos os passos de um sonho”.

Se antes da criação da rede o Brasil possuía apenas 300 quilômetros de trilhas sinalizados, hoje já são 4.000 quilômetros e, em quatro anos, pretende-se chegar a 10,5 mil. Ao todo, o país conta com 104 trilhas implementadas, que passam por 26 estados e pelo Distrito Federal em 208 unidades de conservação. A perspectiva é interligar 235 unidades de conservação e 1 geoparque distribuídos pelos seis biomas brasileiros.

A Transespinhaço é a trilha de longo curso que conecta o maior número de unidades de conservação: são 50 UCs distribuídas por 1.000 quilômetros, dos quais 200 quilômetros já estão sinalizados. Em segundo lugar vem a Transmantiqueira, que conecta 30 áreas em três estados (SP, RJ e MG) por 1.200 quilômetros de trilha. 

Mais do que a integração das UCs, as trilhas dão aos visitantes a oportunidade de conhecerem, entenderem e valorizarem os recursos naturais e culturais existentes nessas áreas. A vivência com a natureza cria uma memória afetiva e gera identidade com o ambiente natural. Há, inclusive, pesquisas que apontam os benefícios desse contato, capaz de aumentar em até 50% a atividade antitumoral realizada pelas células NK (natural killers).

DO TURISMO DE AVENTURA NORTE-AMERICANO AO PROJETO DE PLANEJAMENTO NACIONAL

Parque Nacional da Tijuca, que integra a Trilha Transcarioca (RJ). Foto: Alexandre Macieira / Riotur / Fotos Públicas.

O uso das trilhas de longo curso como um instrumento de política pública de conservação da natureza não é algo novo. Esse conceito começou a ganhar destaque há um século, quando, em outubro de 1921, o engenheiro florestal norte-americano Benton MacKaye publicou, em um de jornal de Nova York, um projeto de planejamento regional que criasse uma trilha na cordilheira dos Apalaches, no leste dos Estados Unidos. Sua ideia deu origem à “Appalachian Trail”, ou Trilha dos Apalaches, modelo que se tornou referência e que foi copiado pelo mundo todo.

No Brasil, essa ideia foi aprimorada ao longo de visitas a mais de 100 trilhas em 50 países e com base na premiada experiência da Transcarioca. “A Rede Brasileira é o que tem de mais moderno no mundo neste sentido porque está assentada em três pilares: conservação – que não está incluído no sistema europeu, geração de emprego e renda – não está incluído no sistema dos EUA – e recreação”, ressaltou Menezes durante o SemeiaLive “A Rede de Trilhas e sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico”, promovido pelo Semeia em 2020.

Para além da recreação em contato com a natureza, as trilhas de longa distância podem transformar atrativos turísticos em verdadeiros produtos capazes de fomentar a economia local e desenvolver ainda mais a oferta de serviços para os viajantes. A ideia de rede, de fato, é trabalhar junto com a população local para a definição do percurso. 

Conforme destaca Menezes, o êxito do processo está em criar pertencimento, fazendo com que todos se sintam parte do processo. Para isso, a rede trabalha com o voluntariado e a mobilização local. “Onde implementamos a trilha, a visitação explode”, celebra Menezes, dando como exemplo o caso da trilha Cora Coralina, que está movimentando a economia em áreas predominantemente rurais, além de gerar um uso do solo mais consciente.

Mas o sonho da rede é que todo brasileiro tenha uma trilha perto de casa, reforça Menezes, proporcionando mais áreas verdes e mais conexão com a natureza.

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