Após um início dramático, com o recrudescimento da pandemia de Covid-19 e o agravamento das suas consequências sociais e econômicas, o ano de 2021 trouxe, enfim, esperança. A vacinação – apesar da contrariedade de certas lideranças políticas do país – nos permitiu voltar a sonhar e nos devolveu a liberdade de circular pelos espaços públicos de que tanto gostamos.
Os parques, claro, estão entre eles. E ressurgem com papel ainda mais importante para a sociedade, após as agruras do distanciamento social. Mais do que nunca, essas áreas serão requisitadas em suas funções de promotoras de saúde e bem-estar e indutoras de desenvolvimento. Precisam, contudo, funcionar em condições adequadas para oferecerem à população mais e melhores serviços.
Felizmente, no último ano, pudemos observar passos largos nessa direção. Assistimos ao amadurecimento e ao avanço de muitos dos programas de parcerias em parques: desde uma enorme quantidade de estudos para embasar e aprimorar esses instrumentos de gestão, nas três esferas de governo, com destaque para a renovação da concessão no Parque Nacional do Iguaçu, até o início efetivo de novas parcerias por todo o país.
O Parque Estadual Serra do Mar, em São Paulo, as unidades de conservação que constituem a Rota das Grutas Peter Lund, em Minas Gerais, e os parques nacionais da Serra Geral e de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, são alguns exemplos de iniciativas em estágio mais avançado e cuja concessão chegou a ser iniciada já em 2021.
Cabe destacar, ainda, o papel desempenhado pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com quem temos tido a feliz oportunidade de atuar conjuntamente em um amplo programa de apoio a governos estaduais para a estruturação de parcerias em parques.
Essa efervescência da agenda também impulsionou a quantidade e qualidade de atores da iniciativa privada que adentraram esse setor, dispostos a desenvolvê-lo e catalisar todo o potencial de que os parques dispõem para a geração de oportunidades e desenvolvimento socioambiental. Um dos nossos estudos revelou que essa contribuição pode gerar até um milhão de empregos relacionados a toda a cadeia do turismo de natureza.
Esses e os outros benefícios proporcionados pelos parques precisam ser amplamente disseminados para que as pessoas se conscientizem de que dispõem de todo esse acervo e estabeleçam vínculos afetivos com essas áreas. Só assim agirão de forma a valorizá-las e protegê-las. Iniciativas como o SemeiaLive, a série Parques&Sociedade e o evento Parques do Brasil foram idealizadas para contribuir nessa direção, ao promover o diálogo e estimular a construção de olhares diversos sobre o nosso patrimônio ambiental.
Também nesse sentido, buscamos pensar essas áreas sob a perspectiva mais ampla da diversidade, de modo a transformá-las em espaços acolhedores para visitantes de todos os perfis. Deve-se considerar, por exemplo, as especificidades das pessoas com deficiência e mobilidade reduzida e de crianças e famílias.
E, para além desse trabalho voltado à promoção dos parques, no último ano também demos os primeiros passos no caminho da valorização de outras riquezas ambientais, desenvolvendo estudos para melhor compreender os desafios, oportunidades e gargalos para o avanço das concessões florestais e o potencial de valorização dos serviços ambientais nessas unidades de conservação.
Dessa forma, reforçamos nosso compromisso de estimular a inovação em processos nos quais o patrimônio ambiental brasileiro seja percebido e administrado como verdadeiro vetor de desenvolvimento socioeconômico, conservação da biodiversidade, saúde e bem-estar – uma abordagem que, necessariamente, passa pelo fortalecimento dos órgãos gestores e pela participação efetiva da sociedade como premissa imprescindível para a consolidação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).
Imprescindível também é o papel desses espaços (e dos atores envolvidos em sua gestão) para ajudar o país a enfrentar os desafios climáticos. A cada ano, sentimos mais e mais as consequências nefastas do aquecimento global, com crescente perda de biodiversidade e alterações possivelmente irreversíveis nos ecossistemas, quadro ainda reforçado no Brasil pelos altos níveis de desmatamento verificado nos últimos anos.
Evitar a desconfiguração do SNUC e dos biomas por ele protegidos é fundamental para o nosso futuro e das próximas gerações. Viabilizar soluções econômicas escaláveis e baseadas na natureza também o é. Por isso, queremos fazer uso de nossas competências institucionais ora aplicadas a parques e colocá-las a serviço, também, do destravamento de parcerias em florestas, do desenvolvimento de instrumentos que facilitem o pagamento por serviços ambientais e o financiamento da recuperação de áreas degradadas, entre outros.
Após um ano como 2021, em que a agenda ambiental voltou ao palco principal dos debates globais, entendemos que nossa missão de inovar para promover a valorização do patrimônio natural brasileiro e dos serviços essenciais por ele oferecidos ganha ainda mais significado. Afinal, quanto mais pessoas se tornarem conscientes do relevante papel que parques e unidades de conservação desempenham para o equilíbrio e a resiliência do planeta, maior será a conexão da sociedade com esses espaços e a probabilidade de um futuro mais justo e sustentável, onde homem e natureza coexistam em verdadeira harmonia.