Parques naturalizados: um lugar para brincar e conservar

Ampliação das áreas verdes nas cidades e valorização da primeira infância se encontram em modelo de parque que constrói memórias afetivas e está em expansão no Brasil

19/10/2021

Os parques têm papel fundamental na relação das crianças com a natureza. Foto: Tibico.

Quando foi a última vez que você subiu em árvores? Você se lembra da sensação de pisar na terra com os pés descalços e brincar com o que a natureza tem a oferecer? Se você for adulto e cresceu na cidade, provavelmente está lembrando da sua infância e de quando ia ao parque ou viajava para o interior.

“Quando eu era criança, tive o privilégio de crescer em uma cidade no interior de São Paulo, uma casa com quintal e espaço para explorar, com árvores para subir”, relembra a engenheira florestal Bebel Barros. “Aquele quintal marcou a minha vida, assim como os jardins, parques e praças. Essa experiência influenciou minhas escolhas pessoais e profissionais, e foi quando eu tive filhos que me interessei pela relação entre as infâncias e a natureza, pois percebi que aquela época que eu vivi estava em extinção”.

Bebel é pesquisadora do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana, que desenvolve o conceito dos chamados parques naturalizados, que são espaços de convívio e de brincar que privilegiam os elementos naturais, como galhos, troncos, folhas e sementes, onde as crianças podem se divertir com a natureza. 

“Sem dúvida, a natureza é o brinquedo mais legal”, afirma Bebel. “Uma tarde brincando lá fora, com os amigos, onde tem água, terra e um barranco para escorregar com papelão é uma experiência muito mais prazerosa do que um brinquedo que, talvez, depois de alguns dias, vai ficar esquecido na estante”.

Nos parques naturalizados, troncos que seriam descartados são reaproveitados como bancos, desafios ou esculturas. Foto: Lara Lima.

Bebel explica que o conceito não é novo, existe há vários anos nos Estados Unidos e na Europa, onde é conhecido como natural playgrounds.

No Brasil, esse modelo de parque envolve a inclusão da comunidade no planejamento dessas áreas e procura fazer um resgate da cultura da infância brasileira, que sempre esteve ligada à natureza, sob influência dos povos indígenas e de matrizes africanas.

Ainda de acordo com a pesquisadora, os parques naturalizados podem ser instalados em qualquer lugar, como, por exemplo, em escolas, clubes e condomínios, e são ambientes seguros, de fácil acesso e de grande significado para a memória afetiva, pois muitas das lembranças de um parque são marcadas pela família e os amigos.

COMO FAZER E O QUE CONSISTE UM PARQUE NATURALIZADO?

Os parques naturalizados aproveitam a topografia e a vegetação para criar ambientes mais atraentes e desafiadores para as crianças. Sua instalação é mais barata que os parques convencionais, ao mesmo tempo que promove a ampliação de áreas verdes e é uma alternativa para as famílias que não podem pagar pelo acesso aos espaços privados.

Fortaleza (CE), Jundiaí (SP) e São Paulo (SP) são algumas cidades que já possuem parques naturalizados, enquanto Caruaru (PE) e Niterói (RJ) estão na fila para a implantação desses espaços de acordo com o programa Criança e Natureza.

Para a pesquisadora Bebel Barros, o envolvimento da comunidade é a chave para o sucesso do modelo, pois, quando a população se enxerga responsável pelo local, auxilia na manutenção e conservação dos elementos que o caracterizam. Conheça alguns deles:

Folhas e sementes viram “ingredientes”, enquanto cuias viram “pratos” e os galhos, “talheres” nesta “cozinha” de madeira. Foto: Tibico.

TRONCOS

Servem para construir os brinquedos, as estruturas e o mobiliário do parque, com diferentes formas e tamanhos, e podem ser um reaproveitamento das podas de uma cidade.

CAMINHOS

Podem ser largos, estreitos, labirínticos ou quase secretos, com diferentes materiais e texturas, como terra, pedras ou lascas de madeira.

ESTRUTURAS

Servem para brincar, como escorregadores ou casinhas, ou para contemplar, como esculturas feitas do tronco das árvores. 

ÁGUA

Poças, lagos, diques ou bombas manuais que retirem água do solo são suficientes para estimular a imaginação das crianças.

JARDINS

Servem para as crianças conhecerem a variedade de espécies, cores e aromas das plantas, que podem ser comestíveis, atrair pequenos insetos ou interagir com o ambiente, como as folhas que se fecham ao toque.

MICROFLORESTA

É uma vegetação nativa, diferente de um jardim, que é um espaço controlado. Proporciona um contato mais genuíno e íntimo da criança com a natureza. 

IMPORTANTE PARA O CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO INFANTIL

“Se as crianças não puderem subir em árvores, nesses espaços, onde vão subir?”, questiona Bebel. “Muitas casas já não têm quintal e quase não há árvores nos condomínios e nas escolas. Essa experiência, ao mesmo tempo tão simples e tão significativa, proporciona para a criança uma compreensão única. Juntamente com a educação ambiental, oferece uma dimensão emocional que estará ligada às futuras escolhas relacionadas à conservação e valorização da natureza”.

Para exemplificar, confira o minidocumentário Crescendo com a natureza, do Instituto Alana:

Para saber mais, acesse também o informativo Parques Naturalizados: paisagens para o brincar natural, do programa Criança e Natureza.

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